Os sintomas geravam alguma preocupação. Começaram por se manifestar com umas simples insónias, que rapidamente deram origem a constantes cefaleias (tal qual enxaqueca feminina, hehe), irritabilidade, falta de concentração, apatia, arritmia, tremuras, astenia e outros achaques. A desmotivação instalou-se e era facilmente constatável.
Como este quadro clínico já se mantinha há uns dias, a minha mulher “arrastou-me” ao consultório de um médico amigo que de imediato diagnosticou: “estás com um estúpido e prolongado ataque de ansiedade”. E lá me atirou com umas “pírulas” ansiolíticas, que pouco mais fizeram que me tornar ainda mais apático, “Yah meu, tá-se bem?”. Entretanto, a conselho da minha informada sogra “porque não experimenta um cházinho do ervanário da Areosa?” Ok! Estava por tudo. Resultado, tenho o meu aparelho urinário a cem por cento, como diurético até que nem esteve mal (com umas “surbias” seria idêntico), quanto aos males padecentes, nada se tinha modificado. Em desespero de causa, ainda pensei contactar a bruxa do “Monte Lírio”, aqui da minha vizinhança, mas tive conhecimento que se tinha aposentado por estar xexé (ora que novidade!). As semanas foram-se passando, até que numa dada altura, ao observar a minha mulher a compilar umas fotos no computador, relacionadas com as nossas provas de orientação, teci alguns comentários com “aquele” toque pessoal.
Click!!! Algo disparou no meu subconsciente, que nas duas horas seguintes, o meu humor alterou por completo, ao recordar todos aqueles momentos, porque qualquer uma daquelas fotos está associada a uma “istória”. Qual enxaqueca, quais tremuras, arritmia ou fraqueza, parecia outro. A minha mulher que se tinha apercebido da alteração do meu comportamento, atirou - “o teu problema é falta de provas para relaxares e, mesmo que não te apeteça, vamos proceder imediatamente à nossa inscrição na prova do ATV”. “Isto só vai com uma terapia de choque, e se tiver que ser à moda do oeste, tanto faz”. E esta hem?
Se o remédio se resumia a pôr o espécie de orientista a funcionar, com todo o prazer arrumei a trouxa (onde não faltava o dicionário de espanhol) e imbuído de “fluidos” positivos, dei início à minha jornada rumo ao encontro das dunas do belo oeste lusitano, zona onde as provas se iriam realizar, num dos quadros paisagísticos mais espectacular do país, a Foz do Arelho.
O tratamento que o Académico de Torres Vedras me colocou à disposição, constava de uma amena dose de 3.400 metros e 22 pontos no sábado e uma “ensaboadela” de mais de 7 quilómetros e 18 controlos no domingo, em terreno arenoso, propício aos atascanços (sobretudo para a malta da “pesada”). Um primeiro dia de cariz mais técnico e um segundo, para testar os níveis de sofrimento, que é como quem diz, pernadas algo longas, a exigirem algum cuidado com as opções, mesmo ao jeito dos nossos “F1”, mas para quem é um “Fiatzinho” ia ser o “bom e bonito”. Ainda me tinha de haver com as “máquinas” dos nossos “hermanos”, pois esta prova também contava para o campeonato espanhol. O verdadeiro espécie em contactos internacionais! (por supuesto que si!)
Na abertura das hostilidades, a motivação estava em alta, gosto de distâncias curtas, não era o último a partir (uma deferência da organização), ainda não chovia e tinha o prazer de contar como companheiro de escalão, com o regressado (depois de longa lesão) ex-repórter fotográfico Jorge “Paparazzi” Dias (a falta que vai fazer nessa área!). A minha saudação especial para o seu reaparecimento (mais um para me dar nas orelhas, hehe).
Saio todo lampeiro, o ponto 1 não me deu problemas, o segundo, perto dum caminho e numa reentrância, também não devia dar. Está bem está…Avisto o caminho e a reentrância com o respectivo ponto, acelero e…não é o meu??? Só pode haver engano! Calhou-me um mapa “estragado”. E lá começa mais uma epopeia do espécie. Em vez de voltar de imediato ao caminho para me relocalizar, não…procuro no relevo envolvente, tudo o que se assemelhasse a reentrâncias. Fiquei a saber, que o que mais há neste tipo de terreno são reentrâncias…mas não a minha. Enquanto não fiz as coisas como deve ser, ela não apareceu (bem feito!). Mal retorno ao caminho, após 11 minutos de teimosia e burrice, o ponto (facílimo) bateu-me logo nas vistas, apesar de ser numa reentrância (?) das pequeninas (com muito boa vontade).
Isto é desesperante não acham? Afinal estava em terapia de choque. Como iria reagir? Da melhor maneira possível. Com esta pastagem logo a abrir, não poderia dar-me ao luxo de cometer mais “loucuras”. O restante percurso foi percorrido com uma precisão de me deixar arrepiado, mas a “desgraça” já estava contabilizada.
Nos quatro pontos finais, que se encontravam dispersos pelo meio duns arbustos emaranhados, quase intransponíveis, que davam fraca visibilidade e prejudicavam a progressão, ainda foi necessário pôr à prova as minhas capacidades como “explorador” (como brincadeira de jogo do “esconde” até que achei giro). Para dar conta do recado tive de me socorrer das linhas de alta tensão (há quem as queira evitar), em virtude de os azimutes estarem todos aos “ésses”, devido aos campos magnéticos (hehe).
Na descida que antecedia o 200, tive de fazer um esforço para não acabar a rebolar (empurrado por um apressado “andaluz”, com défice de fair-play) e terminar com alguma dignidade (1.07,54). Fraquinho não é? Mas houve quem fizesse pior, com certeza só para me animar, são uns companheirões!