O que é que leva um indivíduo a alterar o seu estilo de vida? A mudar o seu comportamento? A tornar-se fisicamente activo, por exemplo? Motivação, a necessidade e a busca da satisfação será, talvez, uma boa resposta. Sim, é verdade! Mas também é verdade que quantas mais necessidades são satisfeitas maior é a tendência para as multiplicar.
De uma forma superficial podemos dizer que a motivação é um fenómeno interno e individual que orienta os comportamentos para um determinado objectivo.
Abraham Maslow é um dos teóricos mais consagrados no que respeita ao tema da motivação, utilizada em áreas tão diversificadas como a Psicologia, Gestão e Ciências do Desporto. Maslow concebeu um modelo teórico designado por “Pirâmide das necessidades” que não é mais que uma teoria geral de motivação. Esta teoria gira em torno de três ideias essenciais:
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A motivação é fundada nas necessidades;
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As necessidades são hierarquizáveis;
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A sua satisfação gera um efeito de alavanca.
A motivação é primeiramente fundada na noção de necessidade. Todo o comportamento humano é determinado pela procura de satisfação respeitante às necessidades fundamentais. Ainda que uma necessidade não seja satisfeita, constitui uma fonte de motivação. As motivações são sempre individuais mas as necessidades são universais e idênticas para todos. A não satisfação de uma necessidade será, de acordo com esta teoria, o verdadeiro motor da motivação.
Numa análise simples podemos verificar que a prática regular de actividade física está implícita logo no 2º patamar da pirâmide e pode ser subentendida em todos os patamares superiores. Então, podemos ser levados a concluir que a actividade física deve ser uma das necessidades primárias do ser humano. Acredito que não seja fácil de entender isto por todos, porque a prática de actividade física regular também é uma questão cultural. Nem todos os indivíduos possuem a capacidade e o conhecimento de perceber a verdadeira dimensão e as implicações que se obtém por se ser activo.
Sem querermos aprofundar muito o tema da motivação, que é vasto e complexo, podemos, no entanto, distinguir aqui dois conceitos relacionados, dois tipos de motivação específicos e coexistentes: A motivação extrínseca e a motivação intrínseca. A motivação extrínseca está ligada a um reforço exterior, é uma actividade que não vale por si própria, mas que permite retirar um benefício ou evitar uma sanção. Esta forma de motivação é qualificada de extrínseca, porque resulta de promessas ou de acções exteriores. Pode tratar-se, por exemplo, da procura de compensações financeiras ou de recompensas. Todavia, quando a actividade é unicamente centrada em motivações extrínsecas, o nível de motivação é fraco. No caso da actividade física podemos dar o exemplo daquelas pessoas, que na Primavera, se preocupam com a linha porque vão andar mais expostas ou porque vão para a praia. Inscrevem-se por isso em ginásios e aderem a dietas milagrosas para obter resultados rápidos. Mal chegue o Outono essa preocupação deixa de existir e o seu comportamento volta ao que era.
A motivação intrínseca, por outro lado, está ligada a uma motivação pessoal gerada pelo atractivo da própria actividade. É chamada intrínseca porque provém do próprio indivíduo. Favorece uma satisfação das necessidades fundamentais de conhecimento, de competência, de autodeterminação e de realização pessoal. As motivações mais poderosas são as intrínsecas. Resultam, por exemplo, da liberdade de criar ou de empreender, da possibilidade de aprender ou de transferir um saber-fazer, da satisfação do trabalho realizado e do seu reconhecimento. No caso dos praticantes regulares de exercício físico (aqueles que o fazem de forma regular à mais de 6 meses, na maioria dos dias da semana), podemos encontrar motivações intrínsecas como a superação pessoal de resultados, o prazer provocado pelo exercício, a manutenção dos índices de saúde, o convívio, a auto-estima sempre em alta, a postura, enfim, tantos motivos que fazem com que a adesão ao exercício se mantenha sem a necessidade daquele “empurrãozinho”.
Na Psicologia existem várias teorias e modelos que tentam explicar alguns comportamentos humanos. No mundo do fitness há um modelo teórico que serve de referência aos profissionais do exercício que pretendem intervir na mudança de comportamentos dos seus alunos/clientes. É o modelo de “Disposição para a mudança”, que contempla 5 estágios que abordamos de seguida:
1. Intenção prévia (pré-contemplação) – Os indivíduos expressam a falta de interesse em fazer a mudança. Este é o estágio onde a maioria das pessoas se encontra, baseado nos resultados dos diversos estudos efectuados que classificam a grande fatia da população como sedentária. A condução dos indivíduos através desse estágio envolve a utilização de múltiplos recursos para enfatizar a importância da mudança desejada. Isso pode ser conseguido através de materiais escritos, aulas de educação, persuasão por parte do médico, da família e outros.
2. Intenção (contemplação) – Os indivíduos começam a pensar em fazer a mudança desejada. Este estágio pode ser influenciado ajudando os indivíduos a definir os riscos e benefícios de se fazer ou não a mudança desejada (Ex: iniciar um programa de exercícios; deixar de fumar).
3. Preparação – Os indivíduos realizam alguma actividade física mas não satisfazem os critérios recomendados, ou seja, 30 minutos de actividade física de intensidade moderada mais de 5 dias/semana ou 3 a 5 dias/semana de actividade de intensidade vigorosa com períodos superiores a 20 minutos.
4. Acção – Os indivíduos satisfazem os critérios acima mencionados (preparação) de forma consistente, porém ainda não mantiveram esse comportamento
por mais de 6 meses.
5. Manutenção – Os indivíduos mantiveram o comportamento durante 6 meses ou mais (parabéns pode considerar-se activo).
Uma coisa é certa, a mudança de comportamento é um caminho complexo, tão complexo quanto é o Ser Humano. Não existem soluções “chave na mão”, porque cada indivíduo encerra em si uma multiplicidade de factores que permitem a mudança e a manutenção de comportamentos. Entram aqui factores como a personalidade, educação, cultura, etc. A motivação resulta de motivos objectivos e razões subjectivas. Cada um age e reage em função da sua percepção sobre o mundo que o rodeia, sendo mais ou menos atraído por certos aspectos que lhe parecem essenciais.
Concluindo, considero que para se mudar o estilo de vida, sendo fisicamente mais activo, é, obviamente, preciso motivação. Esta pode até ser extrínseca, numa fase inicial, mas é necessário que gradualmente os motivos sejam substituídos por aspectos verdadeiramente intrínsecos. Esta mudança não se faz, certamente, do dia para a noite. Sobretudo será necessário alterar percepções e perceber as grandes vantagens que essa mudança acarreta relativamente aos comportamentos anteriores, nem que para isso seja necessário registar as diferenças num “Post-it” e colocá-lo na mesa-de-cabeceira.
Levar um estilo de vida saudável é ser mais enérgico, alegre, descontraído, confiante, é conseguir controlar o peso e a tensão arterial, é ter menos risco de doença, é conviver com a família e amigos, é desempenhar as tarefas quotidianas com mais facilidade, é isto e muito mais…!
Praticar actividade física precisa, em última análise, ser uma actividade agradável e recheada de emoções. Ninguém gosta de sofrer ou passar sacrifícios, por isso não queira fazer em “2 semanas” aquilo que já devia estar a fazer há “dois anos”.
É preciso é estar bem… atingir um estado de “Wellness”!
Referências:
ACSM (2000). ACSM`s Guidelines for exercise testing and prescription – 6th edtion, Baltimore: Lippincott Williams and Wilkins.
Montserrat, X. (2006). Como motivar - Dinâmicas para o sucesso. Porto: Edições Asa