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A minha Maratona de Sevilha

 

E conta-se meia dúzia delas. Sim, acabei de completar a minha 6ª Maratona! Foi em Sevilha e foi extraordinário! Não a marca, que foi a 2ª pior que registei (4h18m38s), mas sim toda a experiência muito envolvente e intensa nestes dois dias à volta da Maratona de Sevilha.

 

 


"E porque é que não vens com a gente?", sugere o Luís com naturalidade. Abriu-se nesse instante, sem ninguém dar por ela, uma fresta de luz no céu escuro num desses treinos madrugadores que tenho feito nos últimos tempos. Sevilha já estivera na minha agenda há uns anos atrás, com inscrição feita e estadia reservada mas quis a vida com a minha permissão e contributo, que não fosse, não treinasse, me lesionasse, me desmotivasse e desistisse do plano. E agora ali estava de novo a oportunidade, a cair-me aos pés, de mão beijada. E agarrei-a! Eu iria correr a Maratona de Sevilha! E não estava sozinha.


Tendo corrido a Maratona do Porto corrida em Novembro, não estava propriamente a partir da estaca zero em termos de treinos e preparação, mas o corpo cobrava as cargas quer da preparação dessa Maratona quer de Trails e outros treinos a torto e a direito, sem rei nem roque, poucas regras e de bom senso duvidoso. 


Com altos e baixos, cheguei ao dia a acreditar que seria possível. Correr a Maratona de Sevilha!


Com amigos Runners da Frente Ribeirinha da Póvoa de Santa Iria, juntámo-nos a companheiros da Margem Sul (*) ainda não eram cinco da manhã e a viagem de autocarro fez-se de forma bastante agradável.


Chegámos ao hotel e vamos à Feira para levantar dorsais e comer. Um feira enorme, com vários stands de vários produtos ligados à Corrida e de muitas outras Maratonas. E se na Maratona do Porto a acontecer em Novembro já muitos de nós estão inscritos, muitas outras há a fazer-nos sonhar. Aprovisionámos uma boa refeição à base de massa especial Maratonista e depois é tempo de visitar a cidade. Aí, valeu-nos o nosso Luís, que velava para que tudo nos corresse bem, e correu melhor que esperávamos e foi nosso guia e interprete e apoio incondicional. Especialmente grata a este rapaz singular!

 

Sevilha é uma cidade linda, onde estes Runners da Frente Ribeirinha da Póvoa de Santa Iria se passearam, deslumbraram, riram, comeram, divertiram e fortaleceram elos na véspera da Maratona.Para além de cansarem as pernas, claro! Mas a mente saiu fortalecida!

 

Seis da manhã e toma-se o pequeno almoço no hotel e quando damos por nós já estamos no Estádio. Nervoso miudinho. Há dúvidas e medos, mas também alegria, muita alegria e borboletas, muitas borboletas na barriga, a esvoaçarem com suavidade roçando o âmago da alma, que eu bem as sinto. Estão comigo a Laida e a Paula Cristina. Será a 2ª Maratona delas e sei que lhes vai correr bem. A Laida faria bem abaixo das 4 horas, eram as previsões (o que veio a acontecer) e para a Paulinha acreditava que estaria mais ou menos como eu, 4 horas e tal. (o que veio também a acontecer, apenas cheguei à sua frente 2 minutos, o tempo exacto que ela levou numa ida à casa de banho e em que eu segui para a frente), pelo que fizemos praticamente a mesma prova. 

 

Partimos juntas e a Laida avança como era natural. Eu e a Paula seguimos juntas no meio de um mar de gente. Bem de perto o balão das 4h15m. Conversamos e corremos em ritmo constante e confortável. Há muito apoio, muitos Portugueses a correr e a apoiar também (onde estão quando corremos em Portugal?). Talvez por volta por km 15 parámos de falar. A Paula teme ir rápido demais. Eu acredito que vou no meu ritmo certo para fazer a distância. Mas a Paula vai com alguns distúrbios intestinais e a mim começam a espreitar algumas dúvidas se me conseguiria manter assim. Afinal não tinha feito as sessões longas suficientes, eu sabia. Caladas alguns minutos, para ao km 20 deixar a Paula na casa de banho e a partir daí sigo sem ela. E agora? Estou só. O ritmo vai-se mantendo. Mas sinto a falta da Paula. A sua força admirável e gigantesca num corpo de metro e meio. E penso na Laida e sei que se vai a sair bem. E eu? Eu vacilo. O corpo está bem, sem dores, mas há algum esforço para manter o ritmo. E a cabeça? Ah, hoje eu não te vou deixar falhar "cabrona"! - entoo mentalmente em sotaque espanhol para rimar com os muitos "Campeona"  que ouvi a prova toda. E eu não estou só. Recorro à velha mágica de dedicar um quilometro a cada pessoa importante para mim. E penso! E passo a passo, atinjo mais um quilometro, e mais outro e mais outro. Por vezes há intrusos a infiltrarem-se no pensamento. Negativos até, alguns. Bano-os! Só quero aqui quem me quer bem! E ainda são muitos! Mãe! Pai! Mafalda! Fernando! O mano! Amigos, amigos, amigos Runners, outros e outros, e outros ainda! Um desfilar de gente importante! Importante para mim! Para quem sou também importante. O porquê de estar aqui! Aqui, neste planeta, nesta vida! A importância das coisas! Afloram-me emoções arrumadas há muito. Certas passagens mentais apertam-me a garganta e quase choro. Emociono-me! Mas envolve-me a Vida. O ânimo espanhol é constante. Contagia-me! Mas as pernas e o esforço é meu! As bandas a tocar pelo caminho num rock espanhol nunca ouvido e faço questão de abrandar e os aplaudir! Olhos brilhantes, gestos simples como um tocar de mão, uma palavra, um senhor de idade avançada a fotografar-nos e a sorrir-nos. Era como se fosse o meu pai! Que não estava ali fisicamente mas esteve comigo o tempo todo! E a minha filha?Teria ela orgulho em mim? Por ser uma "campeona" por 4 horas e 18 minutos? Não! Não, isto não é nada! Nada! A Vida é a nossa única Maratona onde realmente mostramos o que valemos e somos!  Mas correr é tão bom! Sorrio o tempo quase todo! E gosto, gosto desta turbulência de emoções, deste agitar de sentimentos, desta forma de me sentir viva! De transpor tudo isto para o resto do dia, da semana, para o resto da minha vida! E estou já muito perto do Estádio, onde está instalada a meta. Sevilha é linda! Tantos monumentos, que cidade bonita, penso. E corro, corro constante e feliz! Emoções à flor da pele e entro no estádio. Novo aperto na garganta, mas é alegria, alegria prestes a manifestar-se em lágrimas, contidas à última hora. Passo pelo Nuno que caminha para a meta com a filhota. Bonito. Isto é a Maratona! Sorrio-lhes e avanço no meu passo. Retiro o lenço com a nossa bandeira e que levei à cintura o tempo todo e ergo-o! E nisto uma outra rapariga, Portuguesa, aproxima-se por trás e pega no lenço junto comigo e erguemo-lo no ar, cortando a meta juntas, sem nos conhecermos de lado nenhum, mas numa partilha bonita. O sorriso vai de orelha a orelha e as emoções estão ao rubro. Isto é a Maratona! Maratona é isto! Maratona é Vida! 

 

Desligo o cronómetro, recebo a medalha que me colocam ao peito, e embrulho-me no plástico que me dão. Caminho e alongo e estou ligeiramente mal disposta. Caminho e alongo, e já está ali a Paulinha! Que bom! 

 

Depois, bem...depois foi gerir a ligeira indisposição física, que só passou depois do banho, pelo que suspeito que se devesse ao aroma que eu própria emanava embrulhada no plástico, foi reencontrar a Laida, todos os "nossos" que já tinham acabado e voltar ao hotel.

 

E foi este, especialmente porque o partilhei com quem mais amo, um fim de semana muito, muito feliz!

 

E a Maratona de Sevilha é uma Maratona que nos leva ao colo até à meta! Mas temos de ter uns treininhos, convém! É uma prova exemplar! Muitos e bons abastecimentos, muita animação, e fiquei apaixonada e fui muito feliz em Sevilha e porque devemos sempre voltar onde fomos felizes, hei-de lá voltar um dia, mas antes, hei-de ser feliz em muitos mais locais. E estuda-se já a próxima Maratona além fronteiras, já que a do Porto é sagrada para mim!

 

E esta foi a minha epopeia Sevilha 2016, e eu simplesmente, amei! Obrigada a todos que me "levaram" lá!

 

Ana Pereira

http://mariasemfrionemcasa.blogspot.pt/

 

A minha Maratona "passo a passo" - tempos e posições, ver aqui


(*) Obrigada Tó Amieiro, que organizaste esta viagem. Esteve tudo muito bem, a facilitar-nos a logísitica contribuindo de forma fundamental para este fim de semana magnífico.

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quinta-feira, 18 de abril de 2024 – 04:42:02

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