Para Suzuka, algo novo e algo familiar
O C1, o composto mais duro da gama de 2025, fará a sua estreia nesta terceira ronda do campeonato do mundo de Fórmula 1, acompanhado, como habitualmente, pelos C2 e C3. Isto porque Suzuka é um dos circuitos mais exigentes do calendário para os pneus, razão pela qual a Pirelli opta tradicionalmente pelo trio de compostos mais duros.
A novidade deste ano é o facto de grande parte da pista ter sido repavimentada, desde a saída da última chicane até ao final do primeiro sector. Trata-se de uma zona importante, composta por curvas de média e alta velocidade — algumas delas bastante longas — como as duas primeiras após a reta da meta, onde os pneus são sujeitos a elevadas cargas.
A Pirelli apresenta também uma novidade para este fim de semana. No pódio de Suzuka, tal como aconteceu em Melbourne e Xangai, os pilotos irão usar uma edição especial do boné de pódio, desenhado por Denis Dekovic e inspirado na cultura do País do Sol Nascente. Este boné faz parte de uma coleção desenvolvida pela Pirelli Design, composta por 14 versões distintas ao longo dos 24 Grandes Prémios do calendário, e encontra-se disponível para venda numa plataforma de comércio eletrónico dedicada (https://store.pirelli.com).
Os compostos
As simulações pré-evento, realizadas com base nos dados fornecidos pelas equipas, indicam que os tempos por volta deverão baixar, fruto da conjugação entre o maior nível de aderência proporcionado pelo novo asfalto e o incremento de performance dos monolugares de 2025. Estima-se que o ganho estará na ordem de um segundo e meio por volta. Este valor começará a ser verificado já na sexta-feira, durante as duas primeiras horas de atividade em pista.
Com base nas mesmas simulações, os engenheiros da Pirelli procederam a um ligeiro ajuste das pressões mínimas de arranque exigidas nos dois eixos: no eixo dianteiro, a pressão baixa de 25 para 24,5 psi, enquanto no eixo traseiro sobe de 23 para 23,5 psi. Como habitual, os dados recolhidos na sexta-feira serão analisados de imediato, para aferir a correlação entre os valores simulados e os resultados reais, procedendo-se, se necessário, a eventuais correções.
Será igualmente importante verificar se, tal como sucedeu na segunda ronda, na China, a nova superfície do traçado terá um impacto significativo no desempenho, bem como avaliar a rapidez da sua evolução, tendo em conta que Suzuka é um dos circuitos mais utilizados do calendário, já com dois grandes eventos realizados desde o início do ano.
Em 2024
Em 2024, a corrida foi vencida por Max Verstappen, seguido pelo seu colega de equipa na Red Bull, Sergio Pérez, e pelo então piloto da Ferrari, Carlos Sainz. Verificou-se um grande equilíbrio na escolha dos pneus para o primeiro stint, com 12 pilotos a optarem pelo composto médio (C2) e oito pelo macio (C3). No entanto, a estratégia de corrida acabou por ser influenciada por uma bandeira vermelha, na sequência de uma colisão entre Albon e Ricciardo, o que levou sete pilotos a trocarem de composto para o reinício a partir da grelha.
Verificaram-se abordagens bastante distintas em termos estratégicos — tanto no número de paragens como na ordem de utilização dos compostos — embora a estratégia de duas paragens tenha sido, no final, a mais popular. O C1 foi o composto mais utilizado (61% do total de voltas), seguido do médio (31%), enquanto o macio foi utilizado apenas em stints curtos no início ou no final, devido a uma queda de desempenho bastante acentuada.
Vale a pena destacar que, ao arrancar com o médio e fazer apenas uma troca para o duro, Charles Leclerc conseguiu recuperar quatro posições relativamente à sua posição na grelha de partida, terminando em oitavo lugar. Este ano, com uma diferença de desempenho teoricamente significativa entre os compostos, uma estratégia de uma só paragem poderá revelar-se mais difícil de concretizar, sendo ainda necessário perceber que influência terá o novo asfalto numa parte da pista, bem como as temperaturas esperadas para o fim de semana.
A pista
O traçado de Suzuka é um dos mais espetaculares e exigentes de todo o calendário, sendo também o único da temporada com um desenho em forma de oito. Situado na prefeitura de Mie, o circuito pertence à Honda, cuja fábrica de Suzuka, construída em 1960, continua a ser um dos principais polos industriais da marca no Japão. O circuito é reconhecido pelo seu elevado grau de exigência, tanto para os monolugares como para os pilotos. Com uma extensão de 5,807 quilómetros, conta com 18 curvas (algumas delas verdadeiros ícones da história do automobilismo, como os Esses no primeiro sector e a lendária 130R) e mantém-se, em grande parte, inalterado ao longo das décadas.
Para além das já referidas alterações no asfalto, foram feitas outras modificações menores em relação ao ano passado, nomeadamente ao nível dos corretores e das zonas de escapatória em relva. A alteração mais significativa ocorreu na curva 9, onde o corretor simples foi substituído por um corretor duplo mais elevado. Adicionalmente, a relva sintética no exterior das curvas 2, 7, 9, 14 e 17 foi substituída por gravilha.
Keyword: forças
Que tipo de forças são exercidas sobre um pneu numa modalidade extrema do desporto motorizado como a Fórmula 1? Os pneus estão sujeitos a diversas forças complexas, que influenciam diretamente o seu desempenho e a sua durabilidade. As principais forças que atuam no único ponto de contacto entre o carro e o asfalto são verticais, laterais e longitudinais.
As forças verticais resultam do peso do monolugar e da carga aerodinâmica gerada pelas asas e pelo fundo do carro. As forças laterais ocorrem durante as curvas, quando o peso do carro é transferido para o exterior da trajetória, gerando forças que aumentam em função da velocidade de entrada na curva — podendo atingir os 4G e colocando os pneus sob enorme esforço. Já as forças longitudinais resultam da aceleração e das travagens intensas, típicas dos traçados com curvas de raio apertado após longas retas. Nestes casos, as cargas longitudinais podem atingir os 5G.
Suzuka é um dos circuitos mais exigentes para os pneus, sobretudo em termos de forças laterais. Na escala utilizada pela Pirelli para classificar os níveis de exigência dos circuitos, Suzuka — a par de Barcelona, Silverstone, Spa, Zandvoort e Lusail — recebe a classificação máxima: 5.
Box das estatísticas
O País das Cerejeiras em Flor, conhecido em japonês como “Sakura”, já acolheu 40 Grandes Prémios do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 até à data. O primeiro teve lugar em 1976, e um total de três circuitos diferentes serviram de palco a estas provas. Em 1994 e 1995, o circuito de Aida recebeu o então denominado Grande Prémio do Pacífico. Já o Grande Prémio do Japão propriamente dito realizou-se por 38 vezes, quatro das quais (1976, 1977, 2007 e 2008) em Fuji, sendo as restantes 34 edições disputadas em Suzuka — a primeira em 1987.
Michael Schumacher detém o melhor registo em solo japonês. O heptacampeão mundial conquistou seis vitórias em Suzuka, uma com a Benetton e as restantes com a Ferrari, às quais se juntam os triunfos nas duas corridas em Aida, também ao serviço da Benetton. Lewis Hamilton, que iguala Schumacher no número de títulos mundiais, surge em segundo lugar nesta lista, com cinco vitórias: uma em Fuji e quatro em Suzuka. Entre as equipas, a McLaren lidera com nove vitórias, seguida pela Ferrari e pela Red Bull, ambas com sete. Schumacher é também o recordista de pole positions no Japão, com oito, enquanto a Ferrari é a equipa mais bem-sucedida nesta estatística, com dez pole positions.
A realização do Grande Prémio do Japão numa fase precoce do calendário retirou-lhe, nos últimos anos, a possibilidade de decidir o título de pilotos, algo que aconteceu em Suzuka ou Aida por 14 vezes até 2023. Ayrton Senna garantiu os seus três títulos mundiais em Suzuka, nos anos de 1988, 1990 e 1991. Schumacher conquistou um título em Aida (1995) e dois em Suzuka (2000 e 2003), enquanto Mika Häkkinen celebrou os seus dois campeonatos também em Suzuka, em 1998 e 1999. Outros campeões consagrados no Japão incluem James Hunt (1976), Nelson Piquet (1987), Alain Prost (1989), Damon Hill (1996), Sebastian Vettel (2011) e Max Verstappen (2022).