Começou bem a manhã. Enquanto as marchadoras evoluíam nas ruas do centro de Munique, com Inês Henriques nona nos 35 km marcha, no Estádio Olímpico os barreiristas conseguiam prosseguir para as meias-finais dos 110 metros barreiras.
No centro da cidade, num circuito de dois quilómetros, disputou-se a final dos 35 km marcha (masculinos e femininos juntos). Presentes duas marchadoras que competiram na mesma distância nos Mundiais em Eugene, Inês Henriques e Vitória Oliveira. Esta última abandonou a prova depois da passagem aos 21 km, enquanto Inês Henriques que chegou a andar no top-5, acabou por quebrar e terminar na nona posição, registando a marca de 2h58m34s.
“Depois do que fiz no mundial, eu e o meu treinador tínhamos programado ficar nas oito primeiras, mas tive problemas de saúde desde o mundial, estivemos só a tentar gerir a forma”, afirmou a atleta. Sobre a prova de hoje, admite que “estava a sentir-me bem, ainda fui num ritmo confortável, mas nos dez últimos quilómetros comecei a sentir muitas dificuldades. Mas tinha um compromisso comigo, de não desistir e procurei ir a um ritmo que me assegurasse esse objetivo, de chegar ao fim”.
E a recordista de Portugal ainda frisou que se estreou “nos europeus há 20 anos e estou a cumprir a minha 30ª época desportiva. Tenho 42 anos e ainda estou feliz e quero estar aqui. Ainda sinto alguma energia. É óbvio que 35 não é igual a 50 km, mas é uma nova fase e ainda com alguns resultados de qualidade. Eu hoje queria mais, mas não consegui. Fico satisfeita porque 20 anos depois, com seis campeonatos da Europa, a Inês Henriques ainda participa e termina em nono lugar”.
No estádio, nos 110 metros barreiras, logo na primeira eliminatória, Abdel Larrinaga deu o mote, com um triunfo na sua eliminatória, registando a marca de 13,76 segundos. Para o atleta, os primeiros objetivos da sua estreia foram cumpridos. “Queria chegar em ótima forma a este Campeonatos, depois de na pista coberta ter chegado às meias-finais dos Mundiais. Quero chegar à final, para poder representar bem Portugal e dar um bom espetáculo. Tinha falado ontem com o meu treinador Mário Aníbal, e ainda hoje, que para correr tudo bem tinha de partir muito forte e andar cómodo para não ter de usar muito as energias no final”; referiu o atleta que quer descansar bem para as meias-finais de amanhã, às 20h30 (horas locais, menos uma hora em Lisboa).
Também apurado diretamente para as meias-finais, João Vitor Oliveira, que fechou em quarto lugar com a marca de 13,90 segundos, teve de enfrentar uma prova mais dura, depois de ter batido nas primeiras barreiras teve de se aplicar a fundo e cortar a meta com o célebre mergulho. “Foi uma prova dura. A ideia era tentar uma boa marca, não foi o caso, e classificar-me para a meia-final. Isso gera um pouco de ansiedade. Tudo tem um contexto e esse parece que é o primeiro ano da minha carreira. Quando se muda de país e de nacionalidade, não se muda só a bandeira, muda-se um pouco a cultura, vizinhos e amigos. Passei bem por esse processo. Mas eu sou uma pessoa que vibra muito, porque sinto que sou capaz de tudo para conseguir passar a meia-final, e foi o que fiz. Tem uma coisa má: é que acaba sempre por ser muito emocional e desgasta um pouco. Este não é um meeting internacional onde represento o meu nome. Aqui eu estou a representar os milhões de portugueses”, afirmou, preparando-se para descansar para a sua meia-final de amanhã.
Menos bem estiveram duas atletas, Marta Pen e Evelise Veiga, que acabaram aqui a sua participação. A meio-fundista terminou em oitavo lugar a sua meia-final, com a marca de 4m07s82”, que não deu acesso à final. O mesmo na qualificação da saltadora, que terminou em 9º lugar no grupo B do salto em comprimento, com a marca de 6,17 metros.
Para Marta Pen, esta prova “não correu nada como eu esperava. Foi uma prova tática e eu não me sentia muito bem esta manhã. Estava confiante de que podia dar a volta, mas não foi possível. Podia estar mais fresca, mas não consegui. Ainda estou a tentar assimilar o que se passou, mas sinceramente o meu objetivo ficou longe de ser cumprido. Tinha prometido a mim mesma que este ano seria aquele em que eu não saia eliminada dos mundiais. Não foi assim e isso marcou o resto da ápoca. Estava com esperança de dar a volta a isso nos europeus. Não foi possível”, referiu a atleta, que procura agora oportunidade para fazer melhor, sentindo que onde se deve estar rápido e bem é nestes palcos.
Já a saltadora Evelise Veiga saiu visivelmente frustrada com a sua prestação. “Não estava nervosa nem ansiosa”, referiu. “Encarei com muita garra, muita vontade de dar o meu melhor. Não foi possível. Hoje falhei redondamente. Mas faz parte do processo, agora é levantar a cabeça, descansar e começar a preparar a nova época, para mostrar o meu verdadeiro valor. Foi um mau dia, talvez um pouco de falta de sorte, mas não só isso. Poderia ter encarado a prova de outra maneira, mas não o consegui fazer”, concluiu.
Nos 3000 metros obstáculos, Simão Bastos competiu na primeira das meias-finais e cedo ficou longe dos primeiros, terminando a prova em 15º, com 8m57s27”, fora do acesso à final. “Apenas quero dizer que nunca estive na corrida. Cedo fiquei para trás e não consegui melhorar. Estava a procura de melhores sensações, mas não foi possível. Foi um ano duro, de muita luta, até mesmo psicologicamente, para me manter na alta competição. Foi um dia duro para um menino que um dia sonhou estar nestes palcos, mas não sonhou para ser penúltimo. Sonhou em lutar mais à frente”, disse no final da prova.
Na segunda meia-final, Etson Barros andou no grupo da sempre, lutou bastante, mas o último quilómetro deixou mais para trás, terminando em oitavo lugar, em 8m38s04”.
Para ele, o objetivo era conseguir uma marca melhor, “perto dos 8.30 minutos, mas é a minha primeira internacionalização como sénior, depois dos sub-20 e sub-23, mas fui-me sentindo bem nos primeiros dois quilómetros, mas no último quilómetro já estava a dar tudo o que tinha. Saio daqui com uma experiência nova, de cabeça levantada, rumo a novos objetivos”, concluiu.
Luís Miguel Borges, outro português presente, abandonou. “Já foi uma vitória estar aqui. Foi uma época dura, a lutar por estar aqui, por via dos World rankings. Na corrida nunca me encontrei. Nunca senti boas sensações e não consegui lutar mais”.
Nos 400 metros masculinos, João Coelho foi na pista 8 da primeira das meias-finais. Apuravam-se os dois primeiros diretamente e o português foi terceiro, em 45,64 segundos. Ainda ficou nos “hot seats”, bancos os atletas com as duas melhores marcas seguintes ficarem à espera, mas no final da segunda meia-final saiu. “Gostei muito de correr esta meia-final. A oito não é a melhor pista, mas temos de nos habituar a todas. Foi a minha estreia em Europeus de seniores, cheguei à meia-final, menos de 24 horas depois voltei a correr e a melhorar, mas não deu para chegar à final. Estar ali naquele banco é aumentar a ansiedade da espera, mas apenas posso dizer que saio daqui com mais vontade e motivação para os objetivos futuros. Ainda não foi desta que melhorei o meu recorde pessoal, mas haverá mais oportunidades”, referiu.
Cátia Azevedo, nas meias-finais dos 400 metros, foi a última portuguesa em ação na manhã de hoje. A recordista de Portugal foi quinta, cortando a meta em 51,42 segundos, correndo na pista oito. “A pista oito para mim é difícil, ir na sete ou na seis muda tudo, porque eu não tenho boa aceleração e não me coloco tão bem nos primeiros metros. Estava numa série muito forte, com as únicas duas europeias finalistas nos mundiais. Mas estou muito feliz, por poder estar aqui, a continuar a melhorar as minhas performances. Não vou mentir, queria mais, mas o desporto é assim. Queremos sempre mais, pois parados não vamos chegar a lado nenhum”, afirmou a atleta.