A sociedade actual caracteriza-se por um elevado grau de exigência no trabalho, onde cada vez mais a performance laboral é valorizada, obrigando-nos a renegar outros aspectos tão importantes nas nossas vidas como a saúde, a actividade física ou convívio familiar e social. Uma das consequências imediatas, no que toca ao aspecto saúde, reflecte-se nos elevados índices de sedentarismo e descondicionamento físico. De facto, a exigência de resultados no trabalho, os avanços tecnológicos e a melhoria das condições laborais levaram-nos a uma necessidade diminuta de movimento, gerando indivíduos inactivos, pouco funcionais e, consequentemente, com grandes desequilíbrios musculares, anomalias posturais e elevada predisposição para lesões.
Uma vasta investigação científica tem demonstrado que a uma diminuição do nível de actividade física se associa o descondicionamento e disfunção, bem como uma maior prevalência de lesões e/ou patologias. Paralelamente, alguns factores de risco, nos quais o próprio sedentarismo se inclui, tendem a aumentar significativamente. Cenários de hipertensão, obesidade e diabetes são cada vez mais frequentes e as consequências são uma realidade com a qual nos deparamos diariamente.
Hoje em dia, um número significativo de indivíduos que procura fazer exercício físico é motivado por aspectos estéticos, condicionados pelos estereótipos típicos das sociedades modernas. A pirâmide de valores do exercício físico está adulterada. Na sua base deveriam estar os aspectos funcionais do exercício físico, seguidos de aspectos de saúde e por último os aspectos estéticos e de performance.
É neste contexto que podemos enquadrar o Treino Funcional. E o que é o treino funcional? É o conjunto de exercícios e estratégias de treino que visam melhorar a tolerância e o rendimento no trabalho, nas acções quotidianas e no desporto.
As rotinas de treino, que muitas vezes seguimos, têm um grau de transferência limitado, porque nos restringimos a seguir padrões de movimento muito analíticos realizados normalmente num único plano de movimento. Por exemplo, quando falamos em treino de musculação, seguimos normalmente rotinas onde nos preocupamos em treinar o músculo “A”, “B” ou “C”. Só que o nosso corpo pensa em movimentos e não em músculos. “ O cérebro conhece padrões de movimento e não os músculos envolvidos” (Paul Check). Os programas de treino tradicionais não enfatizam suficientemente os movimentos multiplanares e movimentos que activem todo o espectro das acções músculo-articulares. O estímulo proprioceptivo é empobrecido e as probabilidades de lesão são mais elevadas. Por isso devemos pensar sempre em exercícios funcionais, que imitem ao máximo as acções e as actividades requeridas no nosso dia-a-dia.
Concluindo, importa reter que as motivações pelas quais devemos ser fisicamente activos deveriam estar de acordo com a pirâmide da figura. Devemos também ter sempre presente que quanto mais variado for o nosso treino melhor. Não caímos na rotina, exigimos mais e melhor do nosso corpo, e por consequência, mais facilmente poderemos manter um estilo de vida activo, saudável e funcional durante toda a vida