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Em poucas palavras terei a árdua tarefa de descrever um dos melhores Wrestlers de todos os tempos em Portugal e no Mundo. Hugo Passos é sem dúvida o Wrestler da Década, basta ler o seu enorme Curriculum: Campeão Europeu, Campeão do Mundo, Tri-Campeão Olímpico, Campeão Nacional individual e colectivo, Taças de Portugal, Supertaças e ainda invencível em todas as provas Nacionais. Em Dezembro conquistou também o nosso “Wrestling All Star – O Campeonato on-line”, frente a todos os Campeões Nacionais de 2010.
Sem dúvida o Melhor da Luta e será difícil esta Nobre Modalidade ter mais um Wrestler como ele.
Com uma deficiência auditiva, que não o impediu de ser o melhor, aliás até o ajudou a conseguir outros êxitos porque quem não tem um sentido, tem os outros mais apurados.
Muitos o conhecem por não sorrir, outros por não quererem ser “bolas de malabarismo” nas suas mãos ou por não querem levar uma “Cinturada” de 5 pontos, mas quem o conhece garante que estamos perante a pessoa mais humilde e divertida à face da Terra.
Nesta entrevista irá descobrir uma pessoa diferente do que o tem habituado, já de seguida apresentamos Hugo Miguel Passos.
Mundo da Luta Olímpica – Como e onde iniciou a modalidade? O que o levou a optar pela modalidade?
HP – Iniciei quando tinha 12 anos, no Clube de Bairro o Grupo Sport Chinquilho Cruzeirense, onde o meu pai era director. Na altura praticava atletismo no Belenenses, que por sinal também tinha uma certa queda, por causa do meu problema em me expressar, o meu pai inscreveu-me na luta, para ter uma maior abertura com os jovens da minha idade.
MLO – Descreva um pouco a sua carreira como Wrestler.
HP – Como afirmei, iniciei a minha carreira no GS Chinquilho Cruzeirense onde permaneci 6 anos, depois mudei-me para o Sporting Clube de Portugal durante 3 anos e desde do ano de 2000 represento o Casa Pia Atlético Clube.
MLO – Descreva o seu enorme Curriculum.
HP – Já conquistei inúmeros Torneios da Federação Internacional de Lutas Associadas, participei por 9 vezes no Campeonato do Mundo, onde obtive um 6º Lugar em Juniores e participei igualmente 9 vezes no Campeonato Europeu e foi Vice-Campeão Juniores. Com muito orgulho, participei nos Jogos Olímpicos de 2004 em Atenas e obtive a 24ª posição na tabela classificativa. Na vertente do Desporto Adaptado para Surdos, sou o único a obter a marca de 3 vezes Campeão SurdOlímpico (Jogos Olímpicos para Surdos) em Greco Romana e um 3º Lugar nos Jogos SurdOlímpicos em Livre Olímpica, Campeão Europeu, Campeão Mundial e Vice-Campeão Mundial.
A Nível Nacional sou 12 vezes Campeão Nacional em Greco Romana, 7 vezes Campeão Nacional em Livre Olímpica, 5 vezes Campeão Nacional de Equipas, 5 vezes Campeão Taça de Portugal, 4 vezes Supertaça “Fernando Gaspar”, 9 vezes Taça FPLA, entre outros primeiros lugares em vários Torneios.
MLO – Foi um dos poucos atletas que participou nos Jogos Olímpicos, exprime o seu sentimento. Dá-nos uma ideia como é estar nos Jogos Olímpicos?
HP – Infelizmente estive muito pouco tempo na Aldeia Olímpica, no entanto, para mim foi uma competição diferente de todas em que tinha participado até à referida data. Os Jogos Olímpicos são o momento mais alto na carreira de um Atleta, seja qual for a modalidade e eu não fui excepção.
A participação nos Jogos Olímpicos começa quando recebemos a notícia de que vamos participar em tão grande e especial evento, a nossa mente é transportada para uma realidade que não conhecemos, mas que no fundo sempre sonhámos. Treinamos com outros objectivos e com a certeza de um sonho quase realizado.
No mês antecedente à minha participação nos Jogos Olímpicos fui para Cuba, concluir a minha preparação e próximo da minha entrada em competição, obtive a minha maior vitória o nascimento do meu filho Tomás e é claro que será sempre uma data especial.
Para nós atletas desconhecidos do Desporto Português é deveras importante sabermo-nos abstrair de tudo o que nos rodeia e concentrarmo-nos só e apenas na competição. Os Jornalistas fazem-nos pressão e estão sempre à espera de algo diferente e mediático para vender jornais e nós passamos de desconhecidos a estrelas do desporto nacional. Tenho pena que este tipo de atenção dos “média” apenas aconteça nos Jogos Olímpicos.
Para falar a verdade, mesmo com alguma experiência competitiva Internacional não foi fácil enfrentar este Mundo Desportivo, onde só participam os melhores do Mundo.
MLO – O Hugo é o único Português Tri-Campeão SurdOlímpico. Como Portugal vê esta proeza. Como as Lutas Nacionais vêem este título?
HP – É para mim um motivo de grande orgulho ter conquistado 4 Medalhas em 4 Jogos SurdOlímpicos em que participei (3 de Ouro e 1 de Bronze). Na Comunidade Surda existem poucos atletas que tenham conquistado o Título de Campeão SurdOlímpicos e ainda gostava de terminar a minha Carreira com mais um Título SurdOlímpico, para me poder juntar ao atleta Carlos Lopes que conquistou 4 Medalhas de Ouro nos Jogos ParaOlímpicos.
Os meus amigos da Luta e os Surdos são dos poucos que reconhecem o meu trabalho, porque os Jogos Surdolímpicos não são reconhecidos pelo Instituto de Desporto de Portugal, como é reconhecido o Desporto ParaOlímpico e isto leva-me a nunca ter acesso ao mesmo tipo de Mediatismo e Prémios que têm os outros Medalhados Olímpicos.
Respondendo directamente à pergunta, não sei como é que as Lutas Nacionais vêem estas minhas conquistas, quem o pode dizer são vocês colegas Lutadores, Árbitros, Treinadores e Dirigentes.
MLO – A sua Deficiência Auditiva alguma vez teve interferência na sua performance física em cima do tapete?
HP – A minha deficiência auditiva já me prejudicou em alguns combates com os considerados normais ouvintes, pelo motivo de, não ouvir o apito do Árbitro. Ainda há pouco tempo perdi um Torneio devido a essa situação, mas não me sinto inferiorizado, por vezes é o contrário, aqueles que já me conhecem têm mais complexo do que eu, isto atenção estamos a falar em Provas Internacionais, a nível Nacional não tenho qualquer problema.
MLO – Aspectos relevantes das Lutas na sua vida.
HP – O aspecto mais relevante que tenho tido no Mundo da Luta é o carinho que sinto de todos os Agentes Desportivos desta Nobre Modalidade.
MLO – Quando se “reformar” como Wrestler, que esperamos de si?
HP – Pois não pensem que já me vou reformar, ainda têm que esperar um pouco, pois como é do conhecimento geral, espero alcançar os mínimos para os Jogos Olímpicos de Londres. Mas sim, quando me “reformar” estarei sempre ligado há modalidade.
MLO – Depois de se “reformar” vai deixar uma grande marca nas Lutas Olímpicas, nunca mais um outro Wrestler conseguirá igualar tais proezas. Considera esta afirmação como um dado certo?
HP – Não, penso que temos Jovens com muito valor, tem é que ser bem acompanhados, serem humildes e terem cuidado com os vícios.
MLO – Começa a dar alguns “toques” como Dirigente Associativo, já que no ano passado foi eleito como Presidente da Liga Portuguesa de Desporto para Surdos, o que consiste esta nova etapa?
HP – Dentro da pouca disponibilidade que tenho e desde que sou solicitado, gosto de dar o meu contributo em cargos directivos, já fui Vice-Presidente da Federação Portuguesa para Pessoas com Deficiência de 2004 a 2007, Vogal da Associação Portuguesa de Surdos de 2008 a 2009 e actualmente sou o Presidente da Comissão de Atletas ParaOlímpicos desde 2009 até 2012 e ainda Secretário do Conselho Fiscal da Associação Portuguesa de Surdos.
MLO – Podemos algum dia ver Hugo Passos como Presidente da Federação Portuguesa de Lutas Amadoras? Ou preferia como Seleccionador Nacional?
HP – Como Presidente da Federação não será viável, mas como Seleccionador Nacional, penso que não resta dúvidas a ninguém que o meu Currículo como Atleta e os êxitos obtidos, que em qualquer momento, posso vir a ser o Seleccionador Nacional.
Até vou mais longe seria uma injustiça se isso não acontecesse, caso um dia o actual Seleccionador, David Maia, deixar de o ser.