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Está em... início Entrevistas Artes Marciais Mestre Flávio Ribeiro, o "seu suor" e os bons resultados dos seus alunos
O Mestre Flávio Ribeiro, tem um vasto currículo nas Artes Marciais e Desportos de Combate, como Mestre em Luta Olímpica, Luta Greco-Romana, MMA e na Capoeira como Contra-Mestre.
Tivemos oportunidade de falar com ele em 2019, contudo voltamos agora para fazer um balanço da sua carreira com o sucesso dos seus alunos e conhecê-lo melhor.
O seu percurso começa como aluno na Capoeira, que remonta aos seus 17 anos. Em 2004 já auxiliava o seu Mestre como Professor/Monitor na zona de Loures.
Em 2011 tem uma prestação voluntária de serviço técnico-desportivo na Federação Portuguesa de Capoeira.
Passa por dois ginásios, com a égide da UTC (União das Técnicas de Combate) do seu Mestre Nelson Barros, também ele Presidente da Federação Portuguesa de Capoeira ao qual ajudava no núcleo do Sporting Clube de Portugal. Na UTC teve a sua formação de Capoeira e MMA.
Desde dezembro de 2015 até aos dias de hoje as suas aulas são dadas no “Futebol Clube O Despertar” de Casal de Cambra com a sua equipa “Sports Combat & Martial Arts Team”nas disciplinas de MMA, Luta Olímpica e Luta Greco-Romana.
As conquistas dos seus alunos, já por si dizem tudo ou quase tudo sobre o seu trabalho.
Dos resultados mais recentes para os mais antigos, temos os registos:
2023 (ainda a decorrer mas já têm o título de campeões):
João Simões – Luta Greco-Romana
David Alheiro – Luta Greco-Romana
Luís Santos - Luta Greco-Romana
Sara Silva Santos – Luta Olímpica
Diana Ribeiro – Luta Olímpica
Letícia Teixeira – Luta Olímpica (vice-campeã)
2023 - Convocatória para a seleção nacional de Lutas Amadoras de:
Leticia Teixeira - 5° lugar
João Simões - 2° lugar
Galardoados na Gala dos Campeões de Sintra 2022 (realizada já em 2023):
Leticia Teixeira, na categoria de cadetes -61klg na Luta Olímpica
João Simões, na categoria de Juniores -80klg – na Luta Olímpica e Luta Greco-Romana
David Alheiro, na categoria de cadetes -80kg – Luta Greco-Romana
Sara Silva Santos, na categoria de cadetes -46klg Luta Olímpica
Esquerda para a direita: João Simões, Mestre Flávio Ribeiro, Leticia Teixeira e David Alheiro
A época de 2022 foi derradeira em resultados para estes atletas e o seu respectivo Mestre:
Campeões Nacionais nas categorias de:
João Simões - Luta Greco-Romana
David Alheiro - Luta Greco-Romana
João Simões - Luta Olímpica
David Alheiro - Luta Olímpica
Sara Silva - Luta Olímpica Feminina
Leticia Teixeira - Luta Olímpica Feminina
Em equipas nestas duas competições:
- Open de Lisboa
2º Lugar em Cadetes e Absolutos Masculinos e Femininos
3º Lugar em Benjamins, infantis e iniciados
- Grand Slam de Braga:
1º Lugar da juventude Benjamins infantis e iniciados
6º Lugar em 15 equipas na Cat. Cadetes e Absolutos Masculinos e infantis.
Convocatórias de atletas para representar Portugal:
- Edson Pina em iniciados para a 9ª Copa de Espanha de escolas desportivas de lutas Olímpicas 2022
- João Simões em Júniores para Torneio Vacia-Madrid Internacional
Destaque para os seguintes atletas que não tiveram derrotas nesta época:
Edson Pina
Sara Silva
Yara Pina
Alex Soares
Letícia Teixeira
David Alheiro
Ainda em 2022 na Luta Olímpica para crianças (Beat the Streets):
Edson Pina 1° lugar
Sofia Tuna 1° lugar
Yara Pina 1° lugar
Alex Soares 1° lugar
Alexandre Augusto 1° lugar
Margarida Tuna 2° lugar
André Alheiro 2° lugar
2021
A atleta Sara Silva Santos teve as seguintes conquistas:
Ainda em 2021 na convocatória seleção nacional de Lutas Amadoras -Edson Pina ( jovem promessa)
No ano de 2019 o atleta João Simões recebeu o prémio na Gala dos Campeões de Sintra e no Torneio da ALAL o Clube obteve um 2° lugar em equipas nas jovens promessas (Benjamins, Infantil e iniciados).
No Campeonato Nacional de Luta Greco-Romana:
- João Simões, Campeão
- Daniel Rodrigues, Vice-campeão
Remontando a 2017 na modalidade de Muay-Thai pelo Fitness Friends teve dois Campeões Nacionais:
- Daniel
- Edmilsson Ramos.
AMMA: Com este percurso nas Artes Marciais e Desportos de Combate o que sente quando olha para os resultados dos seus alunos?
Flávio Ribeiro: Com trabalho feito, mas com muito ainda por fazer. É bom sentir que o trabalho realizado nos treinos tem surtido efeito nas provas e competições realizadas até ao momento, apesar das condições não serem as melhores .
AMMA: Quando começou a Capoeira aos 17 anos, sonhava vir a ser Mestre nestas Artes Marciais e Desportos de Combate?
FR: Nem por isso. Quando iniciei só queria desfrutar e melhorar porque tinha muita gente conhecida a treinar comigo e havia muita competição entre nós. Era saudável até para ver quem fazia melhor os movimentos e quem se saía melhor em situações de aperto, "luta" recreativa, mas luta. Todos se ajudavam a ser melhores e todos ensinavam como o faziam. Havia muita troca de conhecimentos, resumindo só queria lazer e desfrutar o momento.
AMMA: A vida tem altos e baixos, assim como também os percursos desportivos. Olhando para trás, consegue identificar a “luta” que lhe deu mais trabalho vencer e como a superou?
FR: Havia muita areia na engrenagem além das condições de treino, material para a prática, sem investimentos, patrocínios e começar uma escola do zero, além de nessa área geográfica já ter escolas consolidadas com trabalho "feito", ou seja com condições de treino, conquistas, atletas e treinadores. Uma das escolas até davam e dão aulas gratuitas e até recebem patrocínios, apoio protocolar da Junta de Freguesia em que o meu clube está inserido e que até agora, mesmo após as conquistas dos atletas, não foi dado nem um cêntimo, nem menções honrosas pelas conquistas e pelo desempenho, em representação da seleção nacional e a representar a sua área geográfica.
AMMA: Quando falámos em 2019, estava a pedir ajuda a Dojos e Associações que tivessem Tatamis que não necessitassem e lhe pudessem emprestar senão tinha que fechar a escola, tendo alunos campeões. O que estava em causa era a falta de segurança que os seus alunos tinham a treinar nos Tatamis existentes que como tudo se vão desgastando ao longo dos tempos. Como superou isso? Conseguiu ajuda de alguém?
FR: Nessa altura não tive apoio para a compra dos tapetes para a prática da modalidade de Luta-Olímpica/MMA. Tive de abdicar do meu capital e fazer um esforço monetário para investir na compra dos mesmos que fui adquirindo e melhorando aos poucos, ficando a faltar somente 8 tapetes em 34. Para esses oito tivemos que angariar dinheiro com vendas de rifas e alguma verba veio também do Clube, entretanto a política do Clube mudou um bocado e apoia-nos neste momento. Também tivemos um empréstimo pela parte da Federação Portuguesa de Lutas Amadoras, mas o material já tem muitos anos de uso e com muito desgaste. Infelizmente o material é muito caro. O investimento que foi feito para um tapete de 8mx8m que chega ao valor de 5.000 euros em que neste momento essa área já não chega para o número de atletas que temos. Infelizmente por um lado porque se tem de investir, mas felizmente por outro lado porque estamos a ter muita procura e estamos a proporcionar o crescimento da modalidade. Ressalvo que apoio com patrocínios até agora nada.
AMMA: Quando têm que se deslocar para as provas têm algum apoio, ou organizam-se em vários carros para levar os atletas a competir?
FR: Quando são perto da nossa localização, vamos nos nossos veículos e utilizamos a carrinha do Clube que felizmente num passado recente começaram também a disponibilizar-nos, mas mesmo assim necessitamos de ir sempre com os nossos veículos devido ao número de atletas que levamos. Infelizmente a carrinha do clube só dá para levar 8 atletas e neste momento não há capital para adquirir mais uma carrinha. Quando é para deslocações longas, encontramo-nos num ponto de encontro definido e a Federação Portuguesa de Lutas Amadoras proporciona autocarros para a ida e volta e as respectivas refeições.
AMMA: Das disciplinas que dá formação, tem mais premiados em Luta Olímpica e Luta Greco-Romana. Isso deve-se a ter dedicado mais profundamente ao ensino delas, ou é pelo facto de ter alunos com mais competências nestas disciplinas?
FR: Optei por dedicar mais profundamente a essas disciplinas por ser no momento a Federação mais credível e sem conflitos institucionais, com calendário e provas regulares.
AMMA: Como está o estado destas disciplinas em Portugal? Há muitos jovens a praticar?
FR: Felizmente há muitos jovens a praticar, com bom nível competitivo, tático e técnico apesar de estarem sobrecarregados com o horário escolar, ainda ganham força de vontade para vir treinar. Isso revela a importância que dão à Luta Olímpica/Greco-Romana, mas infelizmente a meu ver vamos ter cada vez menos jovens a praticar devido à carga horária escolar que é cada vez maior, a carga de trabalhos dada pelos professores e o estudo que ainda tem de fazer após o horário da escola. Por exemplo, tenho atletas que estão na escola das 7h00 as 18h30.
AMMA: Também tem alunos adultos? São minoria em relação aos mais jovens por algum motivo?
FR: Poucos talvez pela carga de treino e disponibilidade física e horária. Nesta modalidade é preciso fazer muito esforço a nível mental (dispensar o tempo em família) e físico ( disponibilidade física após o trabalho) para atingir níveis satisfatórios para a prática e a competição.
AMMA: Como funciona o calendário de provas. Com que frequência têm provas, e são a nível nacional, regional?
FR: As provas são mensais a nível nacional e regional. O calendário é definido no inicio do ano permitindo garantir treinos adequados para cada prova e garantir também o descanso e fortalecimento muscular adequado.
AMMA: Ainda não estamos a meio do ano e já tem campeões e uma vice-campeã de 2023. Já conseguiram os pontos todos para ter os títulos. Isso deixa-o muito orgulhoso deles?
FR: A obtenção dos títulos são em confronto directo, atleta vs atleta, nos campeonatos nacionais de equipa e na taça de Portugal o somatório de vitorias obtidas nos confrontos directos obtém o título e o lugar correspondente.
AMMA: Para quem não conhece, pode dar uma pequena introdução sobre a Luta Greco-Romana e a Luta Olímpica? Para candidatos a futuros praticantes pode ser um factor decisivo…
FR: É um desporto de combate corpo a corpo que remonta ao tempo dos gregos e romanos altura em que teve mais notoriedade. Mas mais antigo que isso. É um desporto que te faz querer superar tanto no combate como na vida. Obriga de certa forma a ter uma vida saudável tanto física e mentalmente prepara-te para o agora e o futuro. Ensina a ser cordial, companheiro e ser competitivo no bom sentido, além que deixa-te com um bom físico.
AMMA: Para os jovens e seus pais, que mensagem gostava de deixar sobre a prática destas Artes Marciais e Desportos de Combate? Em caso de dúvida se devem ou não entrar, o que lhes gostava de transmitir?
FR: Pode parecer que estou a “puxar a brasa a minha sardinha”, mas a modalidade em si, os parâmetros de cordialidade, transmissão de conhecimentos, entreajuda, desportivismo e companheirismo que se adquire é incomparável. Apesar de ser um desporto de combate individual, o colectivo impera e todos se ajudam. Mesmo com equipas "rivais" partilham tudo.
São uma grande família.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos cedidas pelo Mestre Flávio Ribeiro