Os Recreios da Amadora recebem, entre os dias 19 e 23 de julho, a 6.ª Amadora Mostra, promovida pelo Teatro dos Aloés, uma mostra eclética do talento dos jovens criadores de teatro.
A 6.ª Amadora Mostra tem como objetivo apoiar os jovens que desenvolvem projetos na área do teatro, colocando à sua disposição espaços de acolhimento com condições técnicas e de divulgação que dignifiquem o seu trabalho. Este ano, foram selecionados 8 espetáculos através de um concurso, com Júri constituído pela direção do Teatro dos Aloés, com experiência artística e também pedagógica. Os critérios de seleção foram: a fundamentação do projeto, a pertinência artística e a diversidade dos temas.
Ao longo destes anos, a Mostra ganhou um lugar e projeção nacional, com candidaturas de todo o País e com manifestações de interesse antes da abertura da Open Call. Esta iniciativa tem possibilitado a aproximação aos jovens que se tornou parte do ADN da companhia que se caracteriza por uma forte ligação a esta faixa etária. A 6.ª Amadora Mostra pretende contribuir para o desenvolvimento do teatro e da escrita em português.
Ingressos: € 5 | À venda na bilheteira dos Recreios da Amadora, duas horas antes do início dos espetáculos.
6.ª Amadora Mostra | Programa/Sinopses
19 de julho
21h30h – LAS VEGAS NÃO SALVA SUICIDAS, de Alice B. Ferreira
Sinopse | «Ao relento de uma noite fria, numas escadas de incêndio longe de Las Vegas, acontece um assassinato.
Acompanhamos em mosaicos a madrugada que o antecede, ouvindo quase que às escondidas as conversas. Uma alentejana deportada e um aveirense conformista falam da morte, da idade, da ignorância, da precariedade, e do Teatro. Percorrem o grunge, de Sarah Kane a Leaving Las Vegas, numa TV pesada com anúncios sem legislação. Discordam e partilham factos meio certos meio errados.
O que leva alguém a matar ao som do álbum de rock mais vendido de todos os tempos? A querer mandar um berro na sala de espera das finanças? A ir à feira da ladra a um sábado? A dar um nó à volta do pescoço? A esquecer-se da morte do tio? A confundir o seu pai com uma estrela de cinema ou anteceder a morte da avó?
Las Vegas Não Salva Suicidas é uma peça sobre filhos dos gritos, criada por um bando de miúdos vivos que nunca morreram antes.»
20 de julho
21h30- O LUGAR DO INSTANTE, de Beatriz Guerreiro
Sinopse | «Três atores, dois galinheiros, um paradoxo e a hipocrisia – uma filosofia acerca dos sentimentos de clausura e de solidão. Um mergulho ao lugar de refúgio – e até onde o refúgio não se torna… numa prisão. Um confronto entre dois antagonistas que acabam exibindo ser os maiores semelhantes: através do discurso entre dois…hypocrites (a originária palavra grega para ator), ambos encontram, em celas opostas – um lugar-comum. Dois enclausurados – um em desespero por sair – um aterrorizado por sair – através de um discurso paradoxal baseado num jogo verbal de hipocrisia e contradição (onde o tempo e a finitude das coisas são o chão comum), que acaba unindo dois opositores através de um conflito de lugares – e unindo os dois lados da guerrilla, a um muro de distância – pela mão da sua própria Humanidade. Todos temos um lugar-comum. Esse lugar é o lugar dos instantes – o lugar em que nada permanece.
Esse lugar é o mundo inteiro.»
21 julho
19h00 – AS PESSOAS LÁ FORA, de Maria Almeida
Sinopse | «Somos três. Fechados numa sala. Fechados na sala do relógio. Um relógio que avariou. Agora o tempo recomeça a cada dia, passa depressa demais. Ou parou, sei lá.
Aqui dentro, tudo se repete, todos se repetem. Repete-se e repetimo-nos.
Dizemos coisas que temos a sensação de já termos dito antes. Coisas que já vivemos antes ou que queríamos viver.
Lá fora, lá do lado de fora, estão as pessoas. Nas suas rotinas, nos seus hábitos, nas suas festas, nos seus maneirismos, na sua vida. As pessoas lá fora procuram qualquer coisa, sem saberem bem o que querem ou onde querem ir – ou então não querem saber.
Essas são as pessoas, que só conseguimos ver da nossa janela. A janela da sala onde estamos fechados. A sala do relógio que avariou.»
21h30 – AURORA, de Inês Melo
Sinopse | «Uma estudante universitária é presa a 3 de maio de 1973.
É levada para a cadeia de Caxias onde, com perversos requintes, é submetida a longos períodos de tortura, às mãos dos inspetores e agentes da PIDE-DGS.
Aurora esteve dezasseis dias e dezasseis noite consecutivos, numa cela do Reduto Sul, sem dormir. Foi ostensivamente torturada, humilhada, espancada, agredida e massacrada por lutar contra a Ditadura e defender o fim da Guerra Colonial.
Não falou.
Agarrou-se às flores e ao seu direito de resistir.
A voz era dela e a dignidade também, por muito que lha quisessem tirar.»
22 julho
17h00 - A RAPARIGA COM AS CAIXAS DE CARTÃO, de Rita Lage
Sinopse | «A Rapariga Com As Caixas de Cartão é uma peça que aborda as complexidades das relações interpessoais, a procura da identidade pessoal e os limites entre a imaginação e a realidade. Centrada numa protagonista com problemas de socialização, compreensão dos seus comportamentos e dos outros e com uma incapacidade em se sentir integrada na sociedade, a peça explora o profundo impacto das memórias e em como aquilo que nos acontece dita o que acabamos por nos tornar.
Através de uma narrativa cativante e com elementos carregados de simbolismo, A Rapariga Com As Caixas de Cartão incentiva à reflexão do nosso papel enquanto seres que impactam os outros, assim como a natureza das memórias, as experiências de procura de identidade e o poder da imaginação na navegação das complexidades das interações humanas.»
21h30 – AFETOS NAVEGANTES, de Marina Campanatti
Sinopse | Afetos Navegantes: Olhar o Porto do Mar apresenta, ao longo da narrativa, a perspetiva de uma educadora brasileira, que cruza o oceano e encontra na Amadora, a oportunidade de desenvolver o seu trabalho nas ruas dos bairros sociais num rico encontro com as comunidades ciganas e africanas. Nesse encontro multicultural típico da cidade, apresenta interrogações acerca dos estigmas relacionados às identidades e suas complexidades. O espetáculo tem como fio condutor a união entre o teatro e a poesia, trazendo à cena a vida do bairro social, os seus potenciais, os seus desafios, mas acima de tudo, apresenta pontos de vista de alguém que está lá, com uma escuta ativa e um grande desejo de redefinir a forma como nos afetamos. As crianças aparecem como ponto central da discussão, convocando o público a compreender a urgência de criarmos um mundo mais sensível e acolhedor, para que elas possam crescer e se desenvolver na sua plenitude. Além das palavras, a performer utiliza a interpretação, o canto, a fisicalidade, percussão corporal e recursos clownescos como forma de dar vida às personagens, representadas com o objetivo de romper com preconceitos e estigmas enraizados, abrir outras perspetivas acerca dos afetos e criar pontes entre o centro e a margem.
23 julho
15h00 - DONATELLO, O RAPAZ QUE VIVE NO FUTURO, de Rafael Barreto
Sinopse | «Imaginem-se completamente rodeados pelo mundo virtual. Agora, imaginem um rapaz, popular, interessante e preocupado com os outros, nas redes sociais. É um autêntico influencer. É um orador motivacional. Aos outros, sabe sempre o que dizer e como dizer. Nunca falha, pois vive num mundo perfeito e iluminado por um ring light. O que ninguém sabe é que, como muitos jovens, Donatello vive num mundo de aparências. Todas as suas relações e interações, são na verdade uma fantasia. Donatello, o rapaz que vive no futuro, é um espetáculo refletivo e provocatório de como vivemos o mundo virtual. Um espetáculo que pode rapidamente ser transformado num fórum, onde alunos de várias escolas, podem numa sala de espetáculos rever alguns dos seus comportamentos na web. Este é um espetáculo que pode ter maior eco em jovens entre os 12 e os 18 anos, mas pretendemos inovar a forma como fazemos os jovens verem temas do seu dia a dia tratados em palco, com elementos que provoquem discussão e reflexão. Com intérpretes com idades compreendidas entre os 14 e os 19 anos, este é um exercício um pouco diferente do habitual, pretendemos que os jovens se revejam, no palco, em colegas da sua geração. Em vez, da comum e fácil, representação feita por um adulto do que é que os jovens são, devem ser, devem fazer, como devem falar, o que devem sentir, como devem sentir e todas as pressões pelas quais um adolescente passa. Um adolescente que hoje têm o mundo nas suas mãos, à distância de um clique, no seu telemóvel. Donatello, o rapaz que vive no futuro, vai deixar-nos perdidos, no meio do que está certo, do que parece estar certo, do que sentimos que está certo, e do que, no final, nos parece, o crime mais hediondo de todos.
18h00 – F*CK I´M DEAD, encenação de Nelson Sousa
Sinopse| «A Eva era o alvo. Não sabemos bem como tudo isto começou, nós habituamo-nos a este ritual e ela também. Cada um com o seu propósito: o nosso era atormentar a Eva, o dela de ser a vítima. Houve momentos em que ela já se estendia por vontade própria. A sua relação com o chão devia ser um caso de estudo. E nós entendemo-la, é provavelmente o melhor amigo que ela alguma vez teve.
Neste momento, enquanto lês este texto passaste também a ser cúmplice. Cúmplice do nosso prazer em fazer o outro sofrer. Cúmplice no silêncio que todos fizemos quando vimos a Eva escorregar em direção ao desconhecido. Cúmplice da nossa história. Cúmplice da sua morte. A Eva está morta. Matámos a Eva, e tu vais ajudar-nos. "Os fortes comem os fracos" e que assim seja.
No fim o que é que importa? Uma pessoa, ou toda a gente?