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Actividade no CPC de Beja

 

Logo pela manhã, Carlos Gaspar e a sua equipa reúnem-se junto ao Boxserpa para alinhar o transporte dos atletas e equipamento para levar para o Centro de Paralisia Cerebral (CPC) de Beja. Esta é uma actividade de cariz social, onde vão ter em sala vinte utentes do Centro que nunca tiveram contacto com o Boxe e raramente com outras modalidades desportivas. Os atletas treinados por Carlos Gaspar na generalidade também vão encontrar pela frente pessoas que lhes vão retribuir muito a sua atenção neste treino de uma hora. É de notar que um dos alunos do Boxerpa também tem paralisia cerebral, numa dimensão diferente da dos utentes deste Centro e outro atleta também tem necessidades especiais. Temos música, aquecimento, e vamos ao treino.

O treinador, os seis atletas, a enfermeira Inês Fialho, Susana Gomes directora do Centro, assim como mais pessoal auxiliar estiveram envolvidos para que os utentes calçassem as luvas e tivessem um pouco de acção. Vimos na cara deles que esta acção de uma hora fez toda a diferença.

 

Vamos dar voz a eles, aos atletas e aos responsáveis do Centro como do Boxerpa.

AMMA: Como surgiu a ideia de ter esta acção do Boxerpa com os utentes do CPC de Beja?

Susana Gomes: Nós recebemos o convite do Boxerpa e como estamos sempre abertos a novas parcerias e a dar possibilidades de participação aos nossos utentes. Achámos o convite interessante e é uma coisa nova. Os nossos utentes têm o direito de participar ativamente em tudo o que a sociedade tiver para lhes oferecer e estamos sempre disponíveis para dar novas possibilidades de participação.

AMMA: Como surgiu a ideia no Boxerpa?

Carlos Gaspar: Esta ideia tem muito a ver também com o programa que nós já temos implementado, com o nome “Cuidar de mim” sobre a integração social através do desporto. Nós estamos sempre receptivos e à procura deste tipo de condições. É porque achamos que, precisamente que que são condições que por vezes ficam um pouco esquecidas, um pouco guardadas na prateleira e obviamente, do ponto de vista desportivo, existem imensas limitações no que estamos aqui a fazer hoje, mas não deixa de ser fantástico o que estamos ali a ver. O que interessa aqui é que as pessoas estejam motivadas, fiquem alegres e que seja um dia diferente.        

 

AMMA: Ou seja, para eles o benefício que eles vão ter em termos de saúde vai, não passa só pela atividade física que eles estão a ter neste momento, mas também para pela oportunidade que eles estão a ter em termos de desportivos a nível mental?

SG: Sim sim, eu gostaria aqui de dizer, apesar de eles serem uma condição física condicionada porque a paralisia cerebral, tem esta característica, eles conseguem concretizar e nós nunca nos centramos na incapacidade mas sempre nas possibilidades de trabalho. Eles conseguem à maneira deles atingir o objetivo e é o que estamos a ver ali. Eu estou surpreendida e estou também satisfeita ali com a reação dos nossos utentes, porque acho que eles reagem muito bem a novas pessoas, mas tem por vezes em que eles ficam fechados e não estou a ver isso. Eles vêm uma possibilidade de participar e quiseram aceitar as luvas e aceitar as pessoas que vieram. E isso por si só já é muito bom. Nós nunca nos centramos na incapacidade e sempre na possibilidade de trabalho e há sempre uma possibilidade.

AMMA: Carlos e entretanto, vocês também têm um atleta com paralisia cerebral? Esse atleta ajudou a programar o que estamos a ver Hoje?

CG: O nosso atleta com paralisia cerebral, está connosco, estávamos há pouco a falar, há cerca de 10 anos. Esse sim faz  efetivamente prática desportiva. Não tem tantas limitações como o caso destes utentes com que nós estamos neste momento e houve uma clara e franca melhoria na condição da psicomotricidade. É óbvio que tínhamos sempre que o convidar para vir ao espaço destes, até para que os utentes que têm limitações físicas, mas não as têm psicológicas, porque dá para reparar bastante nessa situação, poderem ver que há pessoas também com a mesma condição que podem fazer e podem estar felizes, não é?

 

SG: Como estamos a ver ali, eles não ficarem presos à sua incapacidade, ao aceitar as luvas e eles estão a fazer os seus movimentos. Isso já nos tem acontecido com outro tipo de atividades e somos muito gratos também por se terem lembrado de nós e estamos receptivos a este tipo de atividades. Dar possibilidades que os nossos utentes participem, que as pessoas com diferença, com uma condição de vida diferente, que seja motora, que seja mental, tenha as mesmas possibilidades que as outras pessoas. Isso é possível dentro das adaptações e diante da compreensão de cada ser.

 

Enfª Inês Fialho também deixou as suas palavras sobre o treino:

- Acho que foi um evento muito produtivo a nível de movimento para eles, porque apesar das limitações motoras  conseguimos que todos participassem dentro das suas limitações. Foi muito engraçado. Na expressão deles consegue-se perceber que adoraram e que estão super felizes. Vê-se pela expressão facial que muda logo. Nós que os conhecemos assim, notamos logo e isso é uma excelente iniciativa e acho que eles vão ficar com isso. Um bocadinho com um bocadinho na vida deles, vão-se  lembrar que houve um dia que vieram cá fazer boxe.

As palavras dos utentes sobre esta manhã com o Boxerpa:
Sérgio: Foi muito bom, eu nunca aprendi a fazer exercícios com luvas, foi muito bom. Os murros foram muito bons, desviar também foi muito bom e as protecções muito boas Se houvesse boxe perto daqui eu ia fazer.

 

SandraNunca pensei na vida de experimentar boxe, foi uma experiência nova, é muito bom aprender porque assim defende-se das outras e não temos que nos deslocar. Com 49 anos nunca pensei experimentar boxe, e quero voltar a experimentar boxe.

 

Carla: Este treino foi muito importante, acho que o desporto  é muito importante para o desenvolvimento pessoal e gostei muito de jogar boxe. Nunca tinha tido a oportunidade de jogar boxe. Só tinha visto na televisão, nunca tinha visto ao vivo nem experimentado, só na televisão. Gostava de voltar a experimentar porque acho que tinha jeito.

 

Mariana: Gostei muito de ver o boxe, nunca tinha visto na vida. A experiência com as luvas de boxe foi boa, e para a próxima venham outra vez.

 

Maria Luísa: Gostei muito do boxe, achei muito interessante a dinâmica como assistente social. É que eu sou assistente social [esta utente fez uma licenciatura mesmo com a sua condição].

 

Os atletas do Boxerpa também fizeram os seus comentários à actividade:

 

Boxe Adaptado:

- Helder Mestre: Foi muito gratificante sentir a alegria dos utentes com a nossa presença. A nível pessoal, sendo eu portador de uma "leve" percentagem de paralisia cerebral, retiro da experiência uma lição para a vida. Daqui para a frente, quando me queixar do quer que seja, será sempre uma oportunidade de ver o copo meio cheio.

- Emanuel Machado: Queria agradecer por ter feito parte desta iniciativa, embora tenha estado meio tímido, porque é uma coisa nova então eu estava meio sem saber o que fazer ao inicio, mas depois fui ajudando conforme consegui. Eu gostei também de ver os utentes a divertirem-se, com vontade de fazer os exercícios também. Eu gostei muito, senti-me bem e diverti-me muito.

 

Boxe Olímpico:

- Alexandre Coelho: A manhã de dia 25 de novembro para mim foi um momento fabuloso, sentir que conseguimos fazer a diferença e trazer alegria a vida de alguém em algum momento é uma sensação incrível. Ainda sentimos mais quando vês a retribuição daquelas pessoas nas suas caras, afeto que passam e sobretudo os sorrisos. É mesmo de ficar com o coração cheio e sentires realização. Uma manhã muito bem conseguida através do desporto e das emoções dando um pouco de nós em Beja, Trouxe muito de volta. É sem dúvida para voltar a repetir este momento e a oportunidade que temos de o fazer só pelo simples facto de sentir aquela retribuição emocional.

 

-João Moquenco: Senti um completo sentimento de realização ao longo desse dia. Tenho noção que a acção demonstrativa no CPC de Beja foi algo muito básica, mas para aqueles utentes significou muito. Saíram das suas rotinas diárias para passarem uma agradável manhã connosco numa experiência completamente nova.  A nível pessoal senti que acabou por ser bastante emotivo, reencontrei um antigo colega de 1° ciclo, o Duarte. O Durante esses 4 anos, eu e outro colega ajudávamo-lo em todas as tarefas. Acabámos por criar um elo de amizade muito grande. Encheu-me o coração quando cheguei e ele chamou por mim. Foi bom ver que passados estes anos todos o Duarte ainda me reconhece.

 

- Luís Martins: Foi um dia diferente, foi especial, foi muito bom poder partilhar a minha paixão (boxe), com os utentes daquela instituição, e acima de tudo, proporcionar-lhes um dia diferente, fora da rotina, para que eles não se sintam esquecidos, porque todos merecemos ser felizes.

 

Com estes testemunhos, garantimos que com iniciativas deste género, ambas as partes são vencedoras. Os utentes, por seu lado nunca tinham tido o contacto com o boxe, alguns até com o desporto em si, e por seu lado os atletas que também ficaram de coração cheio por terem sido peças chave para a realização pessoal destes 20 utentes.

Para finalizar, o Boxerpa ainda ofereceu ao CPC de Beja duas t-shirts do Clube com a inscrição CPC no nome do atleta e uma deliciosa sobremesa para adoçar o almoço dos utentes.

Palavras do treinador Carlos Gaspar sobre a atividade:

«Em relação à nossa visita ao CPC de Beja já não é a primeira vez que nós nos deslocamos ao ou recebemos alguém de qualidades especiais e temos sempre o maior carinho e promovemos faço sempre por encontrar um método de treino e de estar relativamente adequado, portanto à condição destas pessoas especiais. Seja de que tipo de condição que ela exista e é sempre extremamente gratificante. Existem aqui duas coisas muito importantes. Em primeiro lugar, à medida que estou a fazer a ação, estou obviamente a sentir a satisfação e a receber a satisfação das pessoas que estão a interagir e também ao colocar um pouco de fora e com os outros elementos a trabalhar. Acabei por ter um orgulho imenso, não só nas pessoas que foram comigo, que foram extremamente dedicadas e só revela a postura e a posição para a vida e para o desporto que que todos nós no Boxerpa temos, como,  também toda a alegria que até ficou registada em registo fotográfico e com alguns pequenos vídeos, daquelas pessoas que se divertiram imenso com a nossa brincadeira do Boxe. O outro lado é um lado muito mais sério, muito mais introspectivo. E que dada a minha, as minhas experiências muito perto da zona de morte que tive ao longo da minha vida, deixa-me sempre bastante sensibilizado e é muito, muito emocionado. Acabo sempre por olhar para estas pessoas e achar que que sou um privilegiado. Realmente em poder andar a pensar, escrever, ser autónomo e poder ter poder ser eu a fazer todas as decisões importantes. A ativar todas as decisões importantes da minha vida. Esse esse é realmente o grande arrebate. Eu fico sempre vindo lá muito arrebatado e fico sempre muito arrebatado com a minha insignificância perante o mundo onde vivo. E acabo sempre por ficar introspectivo. Muitas das vezes, tal como aconteceu depois do processo de desenrolar, e quando tenho quando tenho um tempo. A sós comigo próprio é sempre um tempo pesado, introspectivo. Com muita gratidão por aquilo que tenho vivido. E com um sentimento de que, ainda bem, ainda bem que podemos, ainda bem que servimos para alguma coisa para estas pessoas, não é? E devemos de servir, é mesmo assim. Esta é a minha posição em relação a este convívio que nós fizemos. Tivemos com pessoas com uma profundidade e uma deficiência profunda e acho que tem que se tirar daqui e realmente às vezes nós não conseguimos pensar no bem em que estamos e lamentamos e realmente não temos mesmo nada que nos lamentar absolutamente nada.»

 

Texto e Fotos: Pedro MF Mestre

 

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025 – 16:28:44

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