A participação portuguesa na Taça do Mundo de Marcha de Taicang, realizada no passado fim-de-semana, ficou marcada de forma muito positiva pela brilhante classificação da equipa feminina de 20 km – terceiro lugar, com 36 pontos, atrás apenas da Rússia, campeã com oito pontos, e da China, segunda com 22. Este resultado assentou num conjunto de notáveis desempenhos individuais, composto por quatro marcas abaixo da hora e meia, facto inédito na história da marcha portuguesa, já que nunca antes tinha havido quatro marchadoras portuguesas a concluir uma mesma prova dentro desse limite de tempo.
Registando a sexta participação em taças do mundo de marcha, Ana Cabecinha igualou a sua melhor colocação de sempre nestas provas, ao repetir o oitavo lugar que obtivera em 2010, quando, em Chihuahua, Portugal saiu vencedor por equipas. Mas, desta vez, com o acrescento de valor de uma marca final (1.27.49) bem perto do recorde nacional que lhe pertence há seis anos (1.27.46, nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008). Como se compreende, o tempo da atleta do Oriental de Pechão constitui, por isso mesmo, a melhor alguma vez averbada por atletas nacionais nos 20 km femininos das taças do mundo de marcha.
Com o 11.º lugar em 1.28.02 h, Vera Santos não conseguiu repetir a segunda posição de 2010, mas superou o melhor registo anterior em taças do mundo, alcançado em Cheboksary-2008, então com 1.28.17 h, a que tinha correspondido o terceiro lugar. Depois de nas últimas épocas ter enfrentado problemas resultantes de lesões, a atleta do Sporting tinha feito declarações públicas manifestando a expectativa de nos próximos anos regressar ao nível de forma que lhe permitiu, por exemplo, ser quinta nos mundiais de Berlim de 2009 ou quarta nos europeus de Barcelona de 2010. Pelos vistos, a recuperação foi mais rápida, desse facto muito beneficiando esta sua sétima participação em taças do mundo de marcha.
Porventura, a maior surpresa nas classificações e nas marcas individuais alcançadas por todos os membros da delegação portuguesa a Taicang terá sido o brilhante resultado obtido por Susana Feitor. No ano em que completa 25 anos de presenças na selecção nacional e depois de duas épocas marcadas por desempenhos de nível inferior ao protagonizado em anos anteriores, a mais consagrada de todos os marchadores portugueses voltou aos melhores tempos e fechou a equipa no 17.º lugar, com 1.28.51 h. Tratou-se da 10.ª participação em taças do mundo (incluindo três presenças de 1993 a 1997 sobre 10 km), coroada com a melhor marca alguma vez aí obtida. Como tantas vezes acontece nestas situações, à melhor marca não correspondeu a melhor classificação, detendo seis participações com melhor posicionamento final. A melhor classificação de Susana Feitor aconteceu na sua estreia, em Monterrey-1993, quando, ainda júnior, fez um brilharete entre as seniores, chegou a liderar a competição bem destacada lá na frente, descendo depois ao oitavo lugar final nessa edição com metade da distância actual. Com esta actuação em Taicang, a atleta individual da associação de Santarém poderá ter assegurado a última vaga para os europeus de Zurique, fazendo fé nos critérios divulgados pela FPA, que dizem a dado passo: «Na Taça do Mundo será pré-seleccionado o terceiro atleta, levando em consideração os três momentos de avaliação (classificação e marcas).»
A sétima participação de Inês Henriques em taças do mundo ficou assinalada pela obtenção da que fica como a sua melhor marca aí registada (1.29.33), ao mesmo tempo a sua quarta melhor classificação de sempre. Em Chihuahua-2010, tinha sido terceira, mas com uma marca (1.33.28) bastante inferior à obtida agora na China. Tal como Ana Cabecinha, a atleta do Clube de Natação de Rio Maior ficou a apenas três segundos do recorde pessoal, demonstrando que o facto de ter sido a quarta portuguesa teve mais que ver com o superior desempenho das colegas do que com fraqueza sua.
O terceiro lugar colectivo resultante destas prestações individuais colocou a equipa portuguesa bem à frente de outras formações de enorme valor, como são os casos das de Espanha e Itália, classificadas nos lugares imediatos mas com assinalável diferença de pontos para as portuguesas. Tal facto não deve, no entanto, toldar uma análise que se deseja clara da realidade actual da marcha portuguesa, que, como se sabe, continua a precisar de um segunda linha que de momento não existe para, a seu tempo, dar continuidade aos magníficos resultados obtidos por este superquarteto de marchadoras, quarteto a que será justo acrescentar (para que não se esqueça) o nome de Maribel Gonçalves, que, em anos não muito recuados, esteve numa primeira fase dos melhores resultados colectivos da marcha feminina portuguesa.
No escalão de juniores, a representação portuguesa em Taicang teve outros desempenhos femininos muito positivos, ainda que, naturalmente, a um nível diferente.
No meio de uma época revirada por lesões, Mara Ribeiro fez por confirmar em Taicang a condição de melhor júnior das marchadoras portuguesas actuais. Sendo 26.ª, com 49.39 m nos 10 km, não bateu o recorde pessoal, mas melhorou 12 lugares e quase três minutos e meio em relação à Taça do Mundo de Saransk, em 2012, quando ainda era juvenil. Com o resultado deste fim-de-semana, a marchadora do C.N. Rio Maior obteve o quarto melhor lugar de entre as dez participantes juniores de sempre e a terceira marca no mesmo universo, confirmando os mínimos para os mundiais de juniores de Eugene (EUA), de 22 a 27 de Julho.
Mariana Mota terminou na 30.ª posição, marcando a estreia em taças do mundo com um recorde pessoal de 50.05 m, marca que também confirmou os mínimos para os mundiais de Eugene. A atleta do Benfica fez, assim, a quarta melhor marca de sempre das juniores portuguesas em taças do mundo.
Também Edna Barros teve em Taicang a estreia absoluta em taças do mundo. A atleta do Oriental de Pechão foi 37.ª, com 51.50 m, numa prova em que demonstrou capacidade para ir além dessa classificação e dessa marca. Não tendo idade para voltar a competir no escalão jovem em taças do mundo, poderá pensar na Taça da Europa de 2015, que terá lugar em Ivano-Frankivsk (Ucrânia) e constituirá nova oportunidade para um bom desempenho individual numa competição colectiva.
Por equipas, Portugal não teve uma classificação confortável. Com 14 formações classificadas, Portugal foi 10.º, com 56 pontos, o que não pode considerar-se mau resultado. Ficou a apenas três pontos do nono lugar (Tunísia), mas foi de apenas quatro pontos a margem que lhe permitiu ficar acima de Casaquistão, Grã-Bretanha e Ucrânia.
O Marchador