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Está em... início Mais espaços Entrevistas Entrevistas / Técnicos Mestre João Botelho com o desenvolvimento do TDCU
Mestre João Botelho desenvolveu uma Arte Marcial, com técnicas suas e também adaptadas de outros estilos à sua realidade para apurar numa só a necessidade do Combate Urbano. Assim nasce o conceito de Técnicas de Defesa e Combate Urbano (TDCU).
Como o próprio indica, a Mestre Isabel Cristina é o seu “braço direito”, que para além de ser responsável pelas aulas das mulheres, também o ajuda com os treinos dos homens quando é necessário assim como em outras tarefas.
O Mestre João Botelho embora tenha nascido no Porto, está estabelecido na cidade de Ovar, onde tem a sua academia e leciona. Conta ainda com o núcleo da Torre de Moncorvo dirigido pelos seus alunos e Mestres Armando Colaço e Dalila Colaço.
O seu propósito é tentar minimizar a marginalidade das ruas, colocando as pessoas a desenvolver a prática do bem a marginalizados, assim como também tem a porta da sua academia aberta todas as pessoas que desejem praticar a modalidade.
Um dos seus propósitos chave, é também conseguir levar o desporto de forma gratuita aos alunos mais desfavorecidos.
O Mestre João Botelho é uma pessoa simples, atenciosa, humilde mas não gosta de falar de si.
As portas da academia abrem às 06 da manhã com o treino feminino, massagem, terapias, acondicionamento físico entre outras atividades.
Pelas 18h00 o nº 92 da Rua Dr. Manuel Arala de Ovar, tem o início das aulas seguidas até às 21h00, isto nos dias úteis. Aos sábados treinam das 15h00 às 18h00.
Toda a dinâmica pode alterar quando tem deslocações com os seus alunos seja para demonstrações, competições ou momentos de descontração em equipa.
AMMA: Quando começou a praticar Artes Marciais já tinha em mente um dia por em prática estes valores que tem transmitido aos seus alunos?
João Botelho:Sim, tinha. Era esse o objectivo.
AMMA: Apurar a sua própria Arte Marcial, neste caso Técnicas de Defesa e Combate Urbano (TDCU) foi algo que certamente demorou alguns anos. Quais foram as maiores recompensas e também frustrações porque passou?
JB: As recompensas… é o sucesso de meus praticantes.
AMMA: Teve pessoas a trabalhar consigo no desenvolvimento e apuramento da técnica para chegar ao TDCU que temos hoje?
JB: O trabalho com meus alunos fez com que desenvolvesse também os meus conhecimentos e técnica.
AMMA: No vosso programa técnico, fala de três temas que gostaria de abordar. O primeiro tem a ver com os cinco princípios do TDCU, outro que vem de seguida, que tem a ver com os elementos a desenvolver como praticante de Artes Marciais e por fim os Fundamentos do TDCU. Pode introduzir-nos um pouco de ambos?
JB: Como disse, eu desenvolvo o meu sistema adaptado ao dia a dia e utilizando os elementos existentes no dia a dia e na Natureza. Os cinco elementos são:
1) Carácter
2) Sinceridade
3) Etiqueta)
4) Esforço
5) Controlo
Estes cinco elementos pretendemos transmitir aos nossos alunos e que os ponham em prática.
Quanto aos elementos são 15 e um bom praticante terá que os desenvolver para ser bom na Arte.
1º Agilidade – A habilidade manda mover-se com rapidez coordenada.
2º Equilíbrio – A habilidade de mover-se com estabilidade.
3º Coordenação – As ações harmoniosas das diferentes partes de um movimento ou uma série de movimentos.
4º Flexibilidade – O meio físico de executar o movimento desejado, assegurando-se de que os músculos estejam suficientemente esticados, para fazerem o movimento. (é também habilidade mental, para se adaptar às circunstâncias cambiantes).
5º Grandiosidade – A beleza da forma e do movimento – também sob pressão.
6º Resistência Muscular – Habilidade para realizar as técnicas e os movimentos necessários pelo tempo que for preciso.
7º Potência – Habilidade de bater e pontapear com força suficiente para realizar o trabalho; a potência pode definir-se como o uso rápido da força.
8º Reacção – A habilidade de reagir instantaneamente de maneira correta a um ataque, ou a um espaço na defesa do adversário.
9º Ritmo – Habilidade para reconhecer o ritmo dos nossos movimentos e o ritmo dos movimentos do adversário, para melhor a marcha da luta ou do encontro.
10º Domínio – Habilidade em geral, para executar os movimentos ou séries de movimentos desejados, necessários para o êxito.
11º Velocidade – A habilidade para rapidamente reagir e mover-se suficientemente rápido, para evitar um ataque ou para marcar o adversário.
12º Força – Habilidade de possuir força muscular suficiente para gerar a potência necessária para uma técnica.
13º Timing – Habilidade de mover-se e reagir no momento adequado.
14º Bom estado físico em Geral – Uma boa condição física permitirá utilizar os elementos anteriores, do modo mais eficaz possível.
15º Conhecimentos – Isto pode ser tão amplo como conhecerem-se a si próprios, como conhecer o adversário e conhecer as técnicas e princípios das artes.
Os Fundamentos não são conceitos novos, mas partilho pessoalmente deles:
Água – tem de ser fácil de demonstrar.
Fogo – tem de ser fácil de compreender.
Vento – tem de ser fácil de reproduzir.
Terra – tem de ser fácil de restituir sob stress.
AMMA: Ainda relativamente à vossa filosofia de prática, explique-nos em breves palavras, a Pirâmide, os Conceitos para Defesa Pessoal e os 10 mandamentos a Ética.
JB: Respondendo um a um…
A Pirâmide, é o método de treino e a sua utilização! A pirâmide tem quatro degraus:
1º Degrau – Físico: sem o correto domínio do corpo não se pode começar o treino.
2º Degrau – Técnico: quando já possuímos a total consciência ou domínio do nosso corpo, começa a aprendizagem em si do sistema. A etapa da aprendizagem técnica.
3º Degrau – Tático: como treino do pensamento, nesta etapa exploram-se perguntas, tais como? Quando? Onde? E porquê?
4º Degrau – Psicológico: tudo o que isso envolve, decisão, confiança, etc.
Na ética, focamos a interacção do Mestre para com o aluno, ou seja o Mestre ensina ao aluno:
1º - Elementos técnicos;
2º - Trajetórias e possibilidades de deslocação;
3º - Termos de combate com base em 3 princípios (meia distância; longa distância; solo);
4º - Lógica e sincronização do movimento;
5º - Preparação física e os seus efeitos;
6º - Concentração e relaxamento;
7º - Recarga e descarga de energias;
8º - A importância da alimentação;
9º - A importância da higiene física e mental;
10º- Ética e moral para com os outros;
AMMA: Quando termina com o pensamento Zen: “Gratidão a todos os Mestres Espirituais que trilharam o caminho antes de nós”, quer lembrar todos os seus mestres, o que aprendeu com eles, seja técnica física ou treino mental? Está relacionado?
JB: Sim eu sou grato a todos os Mestres por onde passei e se passei já era com o intuito de desenvolver uma maneira de estar diferente.
AMMA: Quando diz que a Mestre Isabel Cristina é o seu “braço direito”, significa que esteve ao seu lado ao longo da sua caminhada marcial?
JB: Sem dúvida, ela é um dos pilares da defesa pessoal.
AMMA: Quanto ao núcleo de Torre de Moncorvo dirigido pelos seus alunos e Mestres Armando Colaço e Dalila Colaço. Como surgiu a necessidade de deslocalizar a Arte Marcial de Ovar para outros locais?
JB: Simplesmente para levar o conhecimento mais longe.
AMMA: Tem em mente abrir mais academias ao longo do país? Neste caso de Torre de Moncorvo, juntam-se periodicamente para treinos, discussão do programa técnico, intercambio de treinos com alunos de ambos os núcleos? Com que periodicidade o costumam fazer?
JB: Sim, várias vezes ao ano e pretendo abrir muitos mais núcleos.
AMMA: No seu propósito tem o objectivo de retirar pessoas em risco de marginalidade das ruas e dar-lhes formação marcial com os valores que as Artes Marciais têm incutidos, como tem resultado? Já mudou a vida a muitas pessoas marginalizadas ou em risco de o virem a ser?
JB: Sem dúvida que tenho feito pessoas muito felizes, mas não queria falar desse trabalho.
É o meu segredo…
AMMA: As aulas mais divertidas devem ser as das crianças devido à sua energia própria da juventude. Como é que eles encaram o treino da técnica e saber o tempo para brincar e o tempo para trabalhar a componente de luta?
JB: O treino que fazem é uma brincadeira de aprendizagem de forma a fazê-los felizes.
AMMA: A Mestre Isabel está responsável pelo treino de mulheres e o Mestre João Botelho pelo dos homens. Como surgiu a necessidade de separar as aulas? É mais eficiente ensinar desta forma?
JB: O tempo, o espaço e fazer com que as pessoas se sintam completamente à vontade.
AMMA: As mulheres são as mais madrugadoras, começam o seu treino às 06h00. Porque motivo o fazem a estas horas?
JB: Para irem para o trabalho mais frescas (risos). Obviamente que estou a brincar… é uma questão de se inscreverem para esse horário, o motivo concreto não sei.
AMMA: Com o ensino de Técnicas de Defesa e Combate Urbano já tem tido alunos em que tenha feito a diferença aplicar os seus ensinamentos em caso de extrema necessidade, ou seja de legítima defesa?
JB: Apenas a sua postura já faz a diferença.
AMMA: Convido-o a deixar o convite tanto aos mais pequenotes, como aos mais crescidos a experimentar a modalidade de Técnicas de Defesa e Combate Urbano.
JB: Sim fica o convite para fazerem uma aula experimental. Sem compromisso, sem preconceito, aproveitar para conhecer uma família diferente.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: Miguel Vieira Pinto (retratos)
Jony Leonardo (Moncorvo)
Fotos cedidas por Mestre João Botelho