No sentido de conseguir dar a volta ao texto, vou passar uma esponja num episódio da bela “istória” e eliminar das minhas pretéritas experiências, a jornada duma prova em 2006, em que estive presente na Almotolia. Alinhem comigo e façam de conta que nunca lá pus as botas.
A Orientação continua a surpreender-me. E enquanto assim for, motivação não faltará ao “espécie de orientista”. No segundo dia de prova, o Orimarão convidou-nos para uma área de floresta às portas de Vila Real, onde normalmente se efectuam manobras militares. Um campo de treino, que por força da construção de diversas infra-estruturas de índole estratégico-militar, transformou-se num local perfeito para a prática da modalidade.
Uma fraga totalmente esventrada pela retroescavadora, onde pontificam trincheiras, nichos de metralhadora, buracos de camuflagem ou de defecação (a ancestral latrina da semana de campo, hehe), proporcionando um fantástico micro relevo artificial, que aliado aos elementos do terreno originais, resultou num mapa semelhante a um artístico desenho de rendilhado. Completa o aspecto técnico, uma razoável quantidade de pedras, num desnível médio, zonas de alguma vegetação rasteira e uma excelente rede de caminhos.
Atendendo que a área é bastante reduzida, o género de prova que aqui melhor se enquadra é o sprint puro e duro. De modo a malta não ficar defraudada pela distância demasiado curta, a Organização elaborou uma etapa com duas mangas. A olho nu, dava ideia que as corridas seriam uma brincadeira de “jogos de guerra”, mas na prática, o mapa da Fraga da Almotolia revelou-se um manancial de armadilhas, atirando um elevado número de concorrentes para a lista das “baixas”, após frustrante desempenho.
A missão que me destinaram, englobava percursos de 1.800 e 1.600 metros, com o mesmo número de pontos a controlar (15), apresentando partidas e chegadas em locais distintos. Como eu costumo dizer – até pode ser o mesmo mapa, mas virem-no ao contrário e tudo passa a ter uma abordagem diferente.
Normalmente assumo como objectivo em provas de sprint, realizar tempos abaixo dos 10´/Km, mas as características deste mapa aconselhavam colocar a fasquia num patamar inferior. A realidade é que com excepção de uma mão cheia de craques, os restantes atletas obtiveram resultados com médias bem superiores. Para confirmar o que acabei de comentar, alguns participantes com vasta experiência chegaram a ultrapassar largamente a hora de prova. Surpresa? Apenas para quem não conhece a Almotolia.
Como não sou um corredor, alicercei a minha prestação num ritmo lento mas uniforme (qual batedor em reconhecimento), usando e abusando da elementar técnica do polegar, de forma a que os imensos buracos, escarpas e depressões, não me passassem despercebidos e evitar alguma queda…”na máscara”, hehe. Táctica rigorosa, que se veio a demonstrar adequada às minhas limitadas capacidades.
Realizei uma primeira manga em 23,22, marca que não me deixa nada envergonhado, bem pelo contrário, tendo complicado o meu comportamento na ronda seguinte com uns menos animadores 27,38, fruto de um descuido isolado, o suficiente para me limpar três minutos. Qualquer manobra menos conseguida, em zona de pedras e buracos, era paga com língua de palmo.
Na progressão para o sexto ponto, avistava uma confluência de caminhos pela direita, que no mapa estava representada à esquerda. A falta de confiança de “espécie” veio ao de cima, duvidei da minha orientação e só instantes mais tarde compreendi que a zona da direita já não constava do mapa, movimento ao melhor estilo de manobras de diversão. Eu encontrava-me no sítio certo, a cabeça é que “vagueava” duas curvas de nível mais abaixo (hehe).
Este mapa é duma riqueza de pormenores, que chega a dar azo a discussões académicas sobre interpretações de simbologia e sinalética. A comissão técnica da prova considerou como elementos humanos, como tal sinalizados com uma cruz preta, uma série de buracos (os tais nichos de metralhadora), que criaram uma confusão dos diabos à maioria, resultando nalguns casos em perdas irrecuperáveis.
É verdade que os ditos buracos foram da responsabilidade do homem (não o terão sido todos?), mas no terreno não fazem qualquer diferença com outros de origem natural. Elucida quem domina a cartilha, que basta esses “nichos” serem forrados com tijolo, para estarmos perante uma construção humana, o que é rigorosamente correcto, por muito que me custe a aceitar. O dilema persiste – um elemento humano dentro de um buraco ou um buraco com uma construção humana?
Vou ser honesto, pessoalmente o problema não me causou qualquer mossa, pois fui esbarrando nas “buraqueiras” à primeira tentativa e no fundo a divergência em causa até me parece mínima – “V”ou “X” eis a questão! (se vos parece código, apelem a ajuda de um “cripto”, hehe)
Manter a concentração é um factor primordial em provas de grande intensidade como esta, o que não deixa de ser desgastante para o “espécie”, que prima pela sua “cabeça no ar”. Para compensar este aspecto pouco recomendável, consegui manter altos níveis de adrenalina (que nem sempre me beneficiam), que acabaram por ditar um par de percursos bastante equilibrados e me colocaram no grupo dos “graduados sobreviventes”.
PS: Alguém pode informar a minha mulher (não se deslocou a Vila Real para participar numa corrida “feminista” pelo centro do Porto), que a medalhita de “bronze” que levei para casa não foi encontrada no chão e que no meu escalão não participaram só três “recrutas”? Que foi fruto de muito sangue, suor e….bem…esqueçam o sangue e o facto de apenas sermos quatro, ok? Agradecido.