Navegando (II)

Novo dia, nova jornada de navegação. Continuando pelo litoral nortenho, desci até Matosinhos para marcar presença no seu III Park Tour. Em jeito de preparação para os nacionais da distância a realizar em Santarém, no próximo mês, o GD4C oferecia à comunidade dois vigorosos sprints.

E oferta é a palavra certa, pois os 4 Caminhos deram o seu modesto contributo para atenuar a crise (hehe), ao concederem uma borla colectiva nas inscrições. Aproveitaram esta benesse cerca de duas centenas de “carentes”, onde pontificavam umas dezenas de atletas de vários clubes da região.

Uma manhã dominical extremamente vertiginosa. - “Para ir à missa não corrias tu…” – “Já cá faltava esta com as suas inconsciências. Vou fazer de conta que não ouvi, bah!”.

Logo a abrir, às nove da “madrugada”, um primeiro raid relâmpago de 1.900 metros, na impecável Quinta da Conceição, cenário perfeito para os debutantes da modalidade e o local ideal para quem desejar fazer um treino técnico bem suadinho. Agora imaginem 24 pontos colocados num exíguo meio quilómetro quadrado arborizado, numa sucessão de patamares, com uma imensidão de escadas e sebes, lagos, fontes, jardins e vários edifícios. Um manancial de pormenores de nos pôr a cabeça à roda e as pernas bambas.

O maior problema neste género de mapas é a profusão de informação, que aliada a uma escala de 3.000, quase não deixa espaço para os códigos dos pontos e traçado dos percursos. Aquilo a que usualmente se apelida de um “senhor berbicacho”. Mas atenção, não é nada que não se resolva de “olho vivo e pé ligeiro” e acima de tudo com enormíssimo prazer.

Perdia mais tempo no mapa a encontrar a baliza seguinte, do que a percorrer a respectiva distância. O ponto 15 é o exemplo paradigmático do que acabo de afirmar. Ao controlar o ponto 14, por falta de espaço, não existia traço vermelho a ligar ao controlo imediato – “Onde estás tu, que te não vejo?” – mas o prisma situava-se mesmo ali ao lado, a escassos metros. Agora é motivo de risota, na altura foi um stress (até os craques vacilaram).

Andei quase vinte e um minutos numa fona, ultrapassando um louco e desgastante sobe e desce, sempre em busca do “39”, que sendo o ponto de loop, obrigava a picá-lo três vezes. Prova curta mas intensa, exigindo níveis de adrenalina no máximo e onde a velocidade de execução se revelou factor decisivo.

O segundo “round” do tour matosinhense teve o seu início duas horas depois e uma vez mais, no mapa do Parque do Carriçal e das Sete Bicas, zona sobejamente conhecida da malta mais assídua nestas andanças. A verdade é que sempre me dá a sensação de estar a percorrer um local desconhecido. O labirinto das vivendas é um verdadeiro desafio de orientação, tantas são as opções que se nos deparam.

O percurso de 3.100 metros e 28 controlos, com cinco loops em dois pontos diferentes, era mesmo à medida dos famigerados “voadores” do nosso pelotão, pena é que poucos tenham estado presentes. Realce para a participação de Joaquim Sousa e Paula Nóbrega, dois dos melhores elites da actualidade, que forneceram mais um toque de classe ao evento.

Considerei um privilégio poder realizar o mesmo percurso que estes craques. Uma das características das provas abertas é permitirem confrontos improváveis. O “espécie” a comparar splits com o Sousa é giro, se não fosse quase insultuoso, hehe! Atendendo ao fosso existente, até nem me portei muito mal. – “Se fosse em distância média ou longa, ele corria duas etapas enquanto te esfalfavas numa” – é um desgosto ter uma consciência desbocada, não acham?

Num aspecto a “vozinha” tem razão: rebentei-me todo para cronometrar pouco menos de 25 minutos. Naveguei o melhor que sei e posso, mas é vapor manifestamente deficitário para acompanhar a maioria dos atletas que se movem com motores a jacto, hehe. Estas provas rápidas, com mudanças bruscas de direcção, põem os neurónios da “veterania” em pé de guerra (ainda vou ter um esgotamento).

A despeito de uma ou outra opção não ser a mais atinada, tenho consciência que pouco melhor poderia ter feito e ainda assim vou ter de ingerir um “estabilizador de equilíbrio”, porque os excessos de velocidade deixam-me “vertiginoso”. Podem acusar o “espécie” de falta de categoria, mas nunca o acusarão de falta de aplicação ou motivação. Qualquer prova é sempre encarada como de um campeonato do mundo se tratasse – garra e ranger de dentes (ah valente!).

Um episódio me alterou o estado emocional. O aparecimento de meia dúzia de concorrentes em cadeira de rodas para participar no Trail-O. Não encontro palavras para vos transmitir o que senti, ao presenciar o empenho que estas pessoas colocaram na sua tarefa, apesar de limitadas fisicamente. Um exemplo que nos faz meditar o quão a vida nos pode ser risonha ou suficientemente madrasta. 

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