Ainda não foi desta que vivi in-loco a Volta a Portugal em Bicicleta, prova que vai na edição 74 (e neste momento já terminada) e percorrida entre Castelo Branco e Lisboa, em 10 etapas, incluindo 2 Contra-Relógio individual e mais de 1600 km de percurso. Seria uma boa oportunidade para fotografar grande parte do país, isto se houvesse algum patrocinador que abrisse os cordões à bolsa e me pudesse pagar a estadia, almoços, jantares, etc. durante os 11 dias da competição, mas a crise veio para ficar e sendo assim, nicles.
No entanto não me fiquei por Lisboa e no dia 15 de Agosto ,08 horas AM em ponto estava já dentro de um AutoPullman a caminho da cidade albicastrense para os primeiros "bonecos" da reportagem, isto depois de me terem servido num restaurante local uma suculenta feijoada, regada com um saboroso sumo de uva preta.
Muita gente, muita mesmo, pode assistir à louca (e perigosa , digo eu) velocidade dos ciclistas e carros de apoio no 1º Contra-Relógio, e que só não acaba em tragédia devido há muita prática dos participantes.
Um dia formidável em temperatura, com um céu azul pintado com nuvens brancas (bom para fotografia) ajudou ao magnifico cenário de estreia da prova ciclística.
Recorde-se que Castelo Branco já recebeu por 32 vezes uma final de etapa, um feito que só é ultrapassado por Lisboa com 91 chegadas.
A "Volta" rolaria depois pelo norte e centro do país e também por muitos aparelhos de TV (o meu incluído) pois de outra maneira nem sequer a via passar.
E eis chegado o 26 de Agosto, dia último da " Volta " com a Meta instalada frente ao DN, no Marquês de Pombal, local onde muitos milhares de pessoas puderam ovacionar os seus ídolos e todos os ciclistas sobreviventes desta prova vindos de Sintra, na derradeira etapa, e na distância de 149,5 Km.
Horas antes da chegada do 1º corredor , o Parque Eduardo VII era já um mar imenso de gente assistindo ao vivo ao programa da RTP1 "HÁ VOLTA" , apresentado por João Baião e Diamantina (é minha sobrinha, sabiam?) e onde a alegria, a cor, os brindes, os sorrisos, o frenesim e a música se cruzam num final de tarde de apoteose.
Para o ano, como tudo o indica, a "VOLTA " irá partir de Lisboa e finalizará em Viseu.
Se este ano não consegui boleia por falta de verba, em 2013 espero percorrer esses tantos km. nem que seja de bicicleta. Não sei é se os corredores terão pedalada para me acompanharem!
texto e fotos: José Carlos Pinto
Entrevista a Joaquim Gomes, Director Técnico da Volta a Portugal .
(realizada antes da partida da 10ª etapa Sintra - Lisboa)
AMMA-
Satisfeito com o andamento desta edição da Volta que vai terminar em Lisboa?
Joaquim Gomes ( JG )
Claro que sim. A Volta a Portugal é um evento a título organizativo de enorme responsabilidade, é um evento itinerante que "andamos com a casa ás costas" ao longo de 11 dias em que montàmos 22 palcos distintos, em que se tivermos em consideração os locais de partida e de chegada com um nível de exigência de segurança que não ocorre em mis nenhum outro evento , quando se chega a Lisboa sem grandes incidentes, é obvio que nos sentimos orgulhosos, até por que este evento tem 85 anos e transmitirmos ás gerações futuras aquele que é um dos mais populares eventos desportivos no nosso país, respiramos com certeza tranquilidade e conforto, e isso vai ser provado á chegada á Capital.
AMMA-
O problema com a reclamação do ciclista Hugo Sabido no Contra-Relógio em Castelo Branco é assunto arrumado?
JG-
Nem chega a ser assunto. O ciclismo , ao contrário de outras modalidades nomeadamente o futebol ,não é fértil em polémica, o sistema de classificações proporcionado pela organização é considerado um sistema complementar de classificações, os árbitros em prova, e não são tão poucos como isso, têm os seus próprios cronometristas, e no final de cada etapa cruzam os seus tempos com os tempos do serviço complementar de cronometragem. Não houve qualquer problema, é obvio que esta polémica não funciona a muito curto prazo em "benesse" da organização, mas de qualquer modo, e de forma indirecta, ajuda a falar de ciclismo e chama a atenção para esta modalidade, mas para a organização nem chegou a ser um problema.
AMMA-
A "Volta" continua a cortar o País ao meio. Não há volta a dar?
JG-
(risos) ... bom trocadilho! Como sabe , a Volta só tem 11 dias , são contingências de ordem regulamentar impostas pela União Ciclista Internacional ,que tem muito a ver também com o número de equipas profissionais inscritas a nível internacional que impediam caso a Volta a Portugal mantivesse numa situação extrema os 21 dias que a sua historia apresentou durante muitas edições, nós não teríamos equipas com capacidade humana para poder participar na Volta a Portugal. Temos 11 dias já há alguns anos, um desses dias é um Prólogo inicial de 2,3,4,5 km. que não tem grande significado em termos da mancha que poderia criar no território nacional, e se tivermos em consideração a tradição que estamos a tentar incutir com a repetição das finais em Lisboa , se tivermos em consideração também alguns dos pólos da atracção da Volta que é a Sra. da Graça e a Torre ,podemos considerar que é manifestamente impossível afastarmo-nos muito mais. Eu acredito que a partir de 2013 , porque em termos comerciais, porque a maior parte dos municípios estão presentes na Volta, já seja possível devolver a" Volta" a Portugal de algumas regiões mais representativas, nomeadamente o Alentejo e o Algarve, mas também o Nordeste Transmontano como Chaves , Mirandela, Macedo de Cavaleiros que têm todo o direito de figurar na prova, e eu acredito que vai ser possível
AMMA-
Tradicionalmente a Volta á França acaba em Paris e em Espanha finaliza em Madrid. Segundo julgo saber a edição 75 da Volta a Portugal vai terminar em Viseu. O país vai mudar de Capital ?
JG-
Se estiver atento ao historial da Volta nunca foi tradição ela terminar em Lisboa, aliás uma das mais fantásticas finais da Volta que conheci ao longo da minha carreira foi em 1989, um Contra-Relógio que ligou a cidade de Matosinhos ao Porto e que tive oportunidade de ganhar e também a Volta desse ano. Existe efectivamente uma sensibilidade dos autarcas da cidade de Lisboa para que se torne em tradição terminar esta grande prova na Capital, só que existem outros municípios que também com historial , e recordo que num passado recente o Município de Viseu recebeu alternadamente finais da Volta a Portugal só contrariado estes dois ou três anos com final em Lisboa e por via de um contrato existente de Viseu tudo leva a crer que será esta cidade a receber a final da Volta a Portugal em 2013. Daí para a frente há efectivamente disponibilidade, caso se mantenha o interesse da Câmara Municipal de Lisboa, para se tornar tradição que o maior evento desportivo passe a terminar em Lisboa.
AMMA- Acredita na inocência de Lance Armstrong ?
JG-
Eu acho que o problema não se deve colocar a esse nível. Agora se Armstrong foi o melhor corredor da sua geração inserido num meio em que provavelmente todos corriam nas mesmas condições , e o que se está a passar com o Lance assume um pouco de contornos de" caça ás bruxas" que não coloca somente em causa o nome deste corredor . Eu não era um particular adepto deste ciclista, apesar de ele ser recordista de vitórias na Volta a França, tive outros grandes campeões na história do ciclismo que alimentaram mais o meu próprio querer e dedicação que dei a esta modalidade, de qualquer modo esta questão está a colocar em causa de uma forma completamente injusta a própria história de ciclismo e espero que o órgão máximo que regula esta actividade ,a União Ciclista Internacional ,possa de uma vez por todas, tomar medidas claras e objectivas para pôr fim a isto que considero uma grande palhaçada!
texto: José Carlos Pinto