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42ª Meia Maratona de S.João das Lampas

 

8 de Setembro de 2018
 

A estória remonta a muitos anos atrás. 41 anos precisamente, quando se realizou a 1ª edição, em 1977. Na verdade há mais tempo certamente, quando a ideia nasceu, germinou, para por fim dar à luz a que é hoje a 2ª mais antiga Meia Maratona de Portugal, bem viva e activa hoje e de muito boa saúde: a Meia Maratona de S.João das Lampas. Muitos de vós não corriam ainda nesse tempo. Outros nem nascidos eram. Muitos outros já cá andavam, já corriam e já faziam parte da história da Corrida em Portugal. Como eu. Já cá andava e não muito longe dali, sem saber sequer o que era uma Meia Maratona, do alto dos meus 8 anos de idade, corria e ganhava as minhas medalhas de participação, numa alegria genuína e pura que ainda mantenho e numa liberdade que o país ganhara "há dias" (25 de Abril de 1974) e que permitiu que surgisse e crescesse o espírito da "Corrida para todos".

 

E desses dias, guarda-se a dedicação e amor à Corrida. Respira-se Corrida, entranhada no pele, a circular nas veias e a demorar-se na passagem pelo coração. E o Mestre Fernando Andrade, timoneiro desta obra desde o seu nascimento, bem rodeado de uma equipa de homens e mulheres singulares e empenhados, traz-nos até hoje esse espírito bem vivo. Renovado, revigorado e também ajustado aos dias de hoje, mas sem esquecer a essência desses primeiros anos. É o que se sente e o que se vive em S.João das Lampas. Quer na Meia Maratona, quer no Trilho das Lampas, que terá a sua 7ª edição em Maio de 2019, quer em qualquer outro evento onde esteja o cunho deste Homem: Fernando Andrade.

 

Eu e as Lampas

 

Sempre ouvi muito falar desta Meia. Das "Rampas", corre a palavra entre o pelotão, meio a brincar meio a sério, trocadilho com Lampas, mas perfeitamente justificável face às valentes rampas que por lá se encontram. Desde "não te metas nisso" até "essa é a doer", passando pelo "todos fazem pelo menos mais 5 ou 10 minutos nessa meia do que numa meia normal" tudo ouvi antes de me atrever a experimentar. E experimentei! Em 2005. E de facto a Meia Maratona de S.João das Lampas não é "normal". Estava assustadíssima antes mas...maravilhada depois, absolutamente rendida aos encantos das Lampas! O resultado nesse ano: 1h50m47s, e uma desmistificação completa do "papão" Meia das Lampas/Rampas. Já habituada na altura a Corridas de Montanha, com algum desnível, a Meia Maratona das Lampas é uma Meia durinha sim senhor, mas...nada que não se faça! Um desafio especial. Uma prova de estrada a testar singularmente as nossas capacidades. Adorei desde a 1ª hora. Um carrossel de subidas e descida para Correr, um público muito acolhedor e umas paisagens bucólicas, um cheiro a campo, um ambiente rústico, absolutamente encantador e apaixonante. E uma Organização execpcional! Não que isso signifique que não tenha havido desde a 1ª hora, coisas menos boas, pontos a corrigir, mas a humildade, seriedade e responsabilidade de quem está à frente dela, é o que faz dela especial: sempre soube ouvir os atletas, respeitar opiniões, assumir erros, reflectir, aprender, melhorar. E assim é até hoje! E assim é hoje!

 

E por isso hoje e sempre, eu volto a S.João das Lampas.

 

A minha 1ª Meia Rampa, 8 de Setembro de 2018

 

O Inverno foi rigoroso. Passei por ele, quase em hibernação. Lesões mail curadas, novas lesões, a gestão delas e os poucos treinos, o reconforto na comida e o consequente aumento de peso, poucos treinos, poucas provas, mil e duas novas e velhas obrigações e responsabilidades, o tempo a fugir, um Verão magnífico a usufruir mais do Sol e do Mar e das comezainas e patuscadas com amigos, do que da Corrida (tudo desculpas!) e chega o convite! O desafio a mim mesma! A 42ª Meia das Lampas estava aí!

 

Os dias a passarem e eu apavorada! Não ia conseguir correr a Meia das Lampas! Em boa hora soube que este ano ia haver uma novidade: a 1ª Meia Rampa! Prova devidamente cronometrada e classificada, a decorrer em simultâneo com a Meia Maratona, sendo o percurso, exactamente os primeiros 13 Km da Meia Maratona. Ainda estiquei o prazo de inscrição ao máximo, para ver se conseguia melhorar de forma e fazer a Meia Maratona, mas não consegui. A uma semana da prova, faço a minha inscrição na Meia Rampa, o que já não me deu direito a dorsal personalizado com o meu nome. Toma, bem feita! Mas isso é um pormenor.

 

E assim, feliz da vida, por a vida e os amigos me permitirem estas coisas, e lá me apresento em S.João das Lampas no sábado à tarde. O ambiente é de festa, até porque é altura das Festas de S.João das Lampas e o relvado junto ao coreto está todo ele cheio de carrosséis e outros divertimentos e barraquinhos com comida. 

 

Ali ao lado, no asfalto, o carrossel é outro. Levanto o meu dorsal, com chip incorporado e uma bonita t-shirt. Reencontro o amigo Vitor Marques, uma máquina da equipa que venho representar: Runners da Frente Ribeirinha da Póvoa de Santa Iria. Infelizmente não lhe correu bem este ano. Mas para o ano lá estaremos os dois de novo! A cortar a meta da Meta! Fica a promessa!

 

Outros amigos do coração, que revejo com muito prazer. É quase sempre assim. Podemos afastar-nos, andar cada um pelas suas vidas, mas quem me faz bem, eu não esqueço. Sabem quem são.

 

O meu pai, sempre comigo, não para repetir vivências, mas para continuar a viver! Também através de mim na Corrida! 

 

Este ano, parece-me que são menos atletas. E mais tarde, constato que sim. 407 chegados à meta na Meia Maratona e 69 na Meia Rampa, onde me incluí. Prometo que para o ano farei parte dos chegados à Meta da Meia Maratona! 

 

A partida é dada e sigo no meu ritmo, bem ciente que este tem de ser especialmente lento, para conseguir mantê-lo ao longo dos 13 Km e manter o lento passinho de Corrida mesmo nas valentes rampas que sabia ir ter de enfrentar. Era esse o meu objectivo. Não ter de caminhar e chegar bem.

 

Depressa encontro esse meu ritmo, e também uma amiga, a Elisete, que vai num ritmo idêntico ao meu, embora com outro objectivo bem distinto: terminar a Meia Maratona, e ganhar com isso um bom treino físico e mental para a Maratona do Porto, que ela vai correr em Novembro.

 

A conversa flui agradavelmente (excepção às Rampas...quando apareciam, tínhamos de nos calar e limitar-nos a respirar e forçar as pernas a continuarem, o que sempre conseguimos) e a Corrida também. Flui naturalmente e com relativa facilidade. Os quilómetros estão marcados e passam demasiado depressa. Há abastecimentos de água. Há controlo de passagem. Há mangueiras de água para quem se quisesse refrescar, há público a incentivar, com quem trocamos um "até para o ano" delicioso. Não há trânsito, a segurança é máxima. Marcações irrepreensíveis, apoio total. E assim, demasiado "depressa" mas já com o corpo a dar-me sinais que já chegava, chegámos a S. João das Lampas. A poucos metros da meta, o meu pai estende-me uma flor que colheu por ali e que eu recebo com amor mas  de imediato a ofereço à Elisete. Leva-a até à meta, peço-lhe. Eu tinha a meta ali e ela teria de seguir por mais 8 Km de um percurso nada fácil, precisava mais que eu. Ela sorri, guarda a flor junto ao peito e seguiu, com a força dela e a que eu lhe pûde dar. 

 

Contorno o largo e entro agora sim na recta da meta. Uma rosa branca é-me estendida, recebo-a com o maior sorriso que tenho, a comprovar que tudo o que damos, recebemos de volta, empunho a rosa e corro feliz para a meta. Tapete verde, muito público e muita animação e termino a minha prova, sendo recebida com popa e circunstância. Vários fotógrafos me apanham, a registar o momento, a eternizar o instante, a emoção vivida, a ficar assim bem guardada para além da memória e da nossa própria vida. A todos eles, o meu muito obrigada. Correr uma prova pode ser muito cansativo, mas fotografar uma prova, assim como vocês tão bem fazem, cansa muito mais, garanto, pois conheço bem os dois lados.

 

E sem esperar mais nada, recebo uma medalha muito bonita. Mesmo muito, muito bonita. De peso! Magnífica! A dignificar a prova e a nossa humilde participação. Não estava à espera. Esta afinal é uma prova (Meia Rampa) dentro da prova principal (Meia Maratona) e não esperava mais nada. Já tinha o bastante! Mas não! Dão-me os parabéns, medalham-me e ainda recebo bolinhos, água e batatas fritas. Depois, há ainda melancia fresquinha e temos tudo para descomprimir da prova, alongar, e assistir à chegada dos restantes atletas e depois à entrega de prémios no local.

 

Mas não há mesmo nada que possa ter sido de meu desagrado ?  Não! Não há! 

 

Mas...mas permita-me a Organização uma mera opinião: A Meia Rampa é uma ideia excelente! Permite a quem, estando melhor preparado para se limitar a  participar apenas na Caminhada, mas não tanto que lhe permita participar na Meia Maratona, ter assim a possibilidade de fazer o gostinho ao pé e Correr dentro da Meia Maratona. Adorei a iniciativa. Mas se não for pedir muito, acho que o singular e fantástico pórtico da meta da Meia Maratona deveria ficar para os atletas da Meia Maratona apenas.

 

Terminar na mesma linha da Meta...não o merecemos! Só corremos afinal 13 Km! Um segundo pórtico, mesmo ao lado, uma divisão dos atletas ali um bocadinho atrás, já na recta da meta, acho que era melhor. Eu, teria gostado mais. E poupar-me-ia de explicar a meio mundo a foto da meta da Meia Maratona com tempos visíveis no relógio, que nem em sonhos eu posso fazer. Fica a sugestão, meramente opinativa. Deixar o pórtico especial para os finalistas da mítica e também especial prova: a Meia Maratona de S.João das Lampas.

 

E por tudo isto e muito mais que só se pode saber e sentir, correndo em S.João das Lampas, muitos Parabéns à Organização!

 

E para o ano lá nos encontraremos!

 

Ana Pereira

https://mariasemfrionemcasa.blogspot.com/

 

 

NOTA:

A minha classificação na 1ª Meia Rampa: fui 48ª chegada à meta de um total de 69, com o belíssimo tempo de 1h25m34s

 

 

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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024 – 11:13:43

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