Ponto final com sprint

O culminar de um qualquer percurso de orientação que se preze, deve assentar invariavelmente num esforçado quanto vistoso sprint, mesmo que esse momento final e apoteótico não espelhe o real comportamento do atleta. Sabe Deus o que essas loucas correrias, que antecedem o “finish”, pretendem e conseguem camuflar (enganadores!).

Nada mais adequado ao encerramento duma longa época, do que uma competição a elevar o sprint puro e duro ao patamar mais alto – II .COM “O” Sprint. Para ninguém dar por mal empregue a deslocação a Braga, numa altura em que o corpo clama por descanso, a Organização propôs-nos uma dose de “três em um”.

Pela frescura da manhã (ou não...25º!), um passeio técnico com alguma exigência física, percorrendo os domínios do frondoso parque do Bom Jesus. Logo a seguir ao almoço, tipo sobremesa “surpresa”, uma visita ao Campus da Universidade do Minho, para terminar em beleza ao anoitecer, no sempre mediático mapa do Centro Histórico.

Apesar de terem um denominador comum, as três etapas apresentaram características distintas, necessitando a centena de atletas presentes, de cuidada atenção e celeridade na execução, pois neste género de provas curtas, convém ter sempre presente, que qualquer contratempo tem influência significativa no resultado.

O “espécie” que já anda a sonhar com férias há algum tempo, perante cenário tão aprazível, arrancou molengão, nunca encontrando o ritmo adequado de progressão, para além de também não ter apanhado a escadaria do”49” à primeira (três minutos a subir e descer patamares errados). Apenas encontro justificação para o modesto registo de mais de meia hora, que levei a completar os parcos 2.000 metros e 19 pontos, nas constantes subidas que me extenuaram (as descidas não contam, hehe), sobretudo na penúltima e longa pernada, que me levou do largo do santuário até ao ponto de “loop” (houve dois), numa sádica ascensão para cumprir o desnível estipulado.

Com uma prestação tão pouco conseguida, não fora o meu excelente poder de encaixe (perante a “desgraça”), quase ficaria a “ver Braga por um canudo”, dado que podia ser alvo de um ataque de desmotivação, que colocaria em causa as duas restantes etapas. Felizmente a adversidade foi superada (os bolinhos de bacalhau estavam um espanto) e entrei no perímetro universitário, com a firme disposição de não chumbar no segundo teste.

É bem verdade que a prova era a menos extensa (1.900 mts) e potencialmente monótona. Estávamos convencidos que o percurso se basearia a dar umas voltinhas pelas instalações, calcorreando meia dúzia de escadas e esquinas, à descoberta dos becos onde os ardentes “amores estudantis” se desenrolam (hehe!), tendo como único obstáculo, o facto de se realizar na hora da sesta e debaixo de intensos 28º. Todavia, aguardava-nos uma bela surpresa.

Ninguém imaginaria é que um terço dos pontos estivesse colocado na floresta vizinha. Ora, como a maioria se apresentou de calções, fomos fustigados sem dó nem piedade por um mato indisciplinado, que envolvia toda aquela encosta de declive acentuado e sendo eu um atabalhoado de primeira, acabei com as perninhas carregadas de dói-dóis. Mas não há dúvida que esta novidade só veio enriquecer a competição, fornecendo um toque de pura orientação a um percurso que se previa demasiado acessível e sensaborão.

Só me faltaram as lágrimas, porque no tocante a sangue e suor, cumpri os requisitos na íntegra. O esforço foi recompensado, alcancei um registo na casa dos 21 minutos, que vou considerar como suficiente para me dispensar de exame (benevolente autoavaliação). Se tivermos em atenção que este percurso apenas tinha uma diferença de cem metros para o primeiro e que o despachei em menos dez minutos, realça uma margem de progressão enorme e seria injusto não relevar o empenho demonstrado pelo “espécie de orientista”.

Como já tinha os motores em alta rotação, pessoalmente preferia realizar de imediato a etapa seguinte, mas o programa não teve contemplações e obrigou-nos a um prolongado intervalo de cinco horas! Demasiado tempo de seca – afirmam uns quantos, em jeito de “queixinhas”. Período necessário à manutenção da logística e a compromissos de interesse local – contrapõe quem tem a experiência destas lides. Aceito pacificamente as duas versões.

Depois de um percurso em parque e outro surpreendentemente misto, finalmente o verdadeiro sprint urbano, que leva à loucura os nossos “supersónicos”. No que me diz respeito, estes ziguezagues provocam-me tonturas e fazem-me elevar a ansiedade para níveis perigosos (micção permanente, hehe), pois tenho a noção de que ou corro nos limites, ou sofro um vexame dos antigos (o Mário e o Albano não perdoam). No entanto, sobra o aspecto positivo de a prova se iniciar ainda com luz solar, o que atenua a minha deficiente leitura de mapas urbanos e me beneficia a prestação (não me esbarro com os prismas).

Para fechar a época com chave de ouro, efectuei um dos melhores sprints de que me recordo, mas mau grado o acerto, não teve qualquer reflexo classificativo. Cerca de 19 minutos, para encontrar 17 pontos em 2.400 metros, não é resultado humilhante para o “espécie”, nem pouco mais ou menos, porque os meus “campeões”, apesar de toda a sua velocidade não me conseguiram esmagar, apenas me machucaram ao de leve (pelo menos foi o que senti).

Agora vou dar início ao merecido repouso do guerreiro, bem curto por sinal, já que na próxima época, que arranca mais cedo e pelos vistos termina mais tarde, a espécie de orientista vai conhecer novas responsabilidades e tentar atingir objectivos completamente diferentes (às tantas ainda perco o sono). 

Atenção! Este portal usa cookies. Ao continuar a utilizar o portal concorda com o uso de cookies. Saber mais...