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O meu mapa (1) - Jardim lusitano

Essa agora! Meu mapa? Que conversa mais esquisita para um sujeito, que no reino da Orientação, não se considera proprietário de coisa nenhuma. Com efeito, não me pertence terreno algum, não cartografei um centímetro quadrado do que quer que fosse, nem tão pouco tracei um rudimentar percurso para um “ori-kid”. Quando muito, identifiquei uma quantidade de pedregulhos, lá para as bandas do norte alentejano.

Perante tamanha escassez de argumentos, apenas poderei dissertar sobre um qualquer mapa, onde terei passeado a minha indubitável “classe” de orientista. E nesse aspecto sim, possuo curriculum para dar e vender. Comportamentos de qualidade duvidosa, mas enfim, uma infinidade de quilómetros percorridos.

Por acaso, até sinto alguma relutância e extrema dificuldade, em eleger um mapa como “meu”. “Meu” porquê? Um que tenha significado especial? Qual o critério de escolha? Em que característica me devo basear? Privilegiar o tipo de sentimentos envolvidos? Também posso optar por uma busca aleatória. Ok! Basta de divagação. Vamos lá tentar.

- Talvez o meu primeiro mapa, o da descoberta (Esse está fora de cogitações, porque não tenho grande percepção dos pormenores e participei em grupo). - Ou aquele onde me cobri de glória (Pois…nesta área, infelizmente não vislumbro nenhum). - Algum que me tenha deixado com vontade de voltar (Uff! Perdi-lhes a conta). - E porque não um belo mapa, causador de enormes dissabores, ao melhor estilo do “mp surprise”? (Contam-se pelos dedos de uma mão, é uma excelente hipótese, mas demasiada frustração em causa) - Se calhar a escolha devia recair, num dos extraordinários mapas do meu clube (Nah! Creio que iria parecer falta de isenção). - Ah! Achei! Preciso de um bom mapa estrangeiro, nórdico de preferência, que me conceda um toque de classe (Uops! Rebate falso. Esqueci-me que ainda não fiz a minha estreia fora de portas). – Hum!…Dada a raridade da situação estou cá a magicar, se a floresta onde os meus caminhos se cruzaram por diversas vezes, em poucos minutos, com os do campeão Gueorgiou, não seria uma óptima opção. (Coincidência curiosa, porém, irrelevante e potencialmente ridícula).

Não que eu seja vaidoso, mas a estreia do meu “fashion” fatinho laranja, com sapatilhas a condizer e bússola topo de gama, merecia ficar na história, pois terá sido o único dia onde dei uns ares de perfeito orientista. Mau grado a aparência impoluta e “profissional”, o mapa “traiu-me”, originando asneiras de bradar aos céus (alternativa riscada).

Ora bem. E se eu optasse por um mapa, daqueles muito complicados tecnicamente, que todos os craques afirmam adorar? (mesmo que se tenham atascado até aos dentes) A malta ficaria com a sensação que eu até percebo do assunto, só que tenho excessiva propensão para o azar. O problema é que esse género de mapa não me deixa gratas recordações. É pena, pois com certeza subiria vários patamares, na pirâmide dos “pseudo-experts” da matéria.

Sinceramente, o que me dá vontade de escrever, é sobre o protagonista da maioria dos meus pesadelos, que me faz ranger os dentes sempre que penso nele. Aquela catrefada de pedras, que me obrigou à única desistência, por manifesta incapacidade técnica. Muas - de sua graça. Só que já abordei esse deprimente episódio num texto anterior e segundo informações recentes, iremos ter em breve uma nova contenda.

Poderia considerar eventualmente, a minha primeira aparição num escalão de competição da Taça de Portugal, integrado nos frenéticos “forty five”. Sim senhor, um dia agradável, num excelente mapa minhoto, a companhia de cavalos selvagens, um tinto de estalo e uma performance de gritos…confrangedores! A bem da minha sanidade mental, é melhor não falarmos mais nisso.

Correndo sérios riscos, também não vou fazer a vontade à minha mulher, que pretendia (ou exigia?) que eu abordasse um mapa, cujas paisagens me tivessem ficado na retina. Como? Ela não faz a mínima ideia da dificuldade da tarefa. Afinal, não é a Orientação que se pratica em autênticos paraísos? Seria incomensurável.

Ainda equacionei um cenário das suaves dunas (pelas quais tenho uma empatia especial), numa prova de cariz internacional e que marcou o começo da relação com o meu ilustre emblema. Sem dúvida, um mapa condigno para a importância do momento, mas não houve qualquer contributo de realce da minha parte. O calor sufocante daquele “summer” toldou-me o raciocínio e lá se gorou mais um brilharete para a actual história (os meus “patrões” também não iriam achar graça à exposição da mediocridade).

Como facilmente depreenderam, assalta-me uma enorme indecisão, não conseguindo encontrar a carta dos meus amores. Por um lado, adorei determinados mapas, onde sofri largos períodos de pastorícia. Enquanto noutros, que não me deixaram tão boa impressão, até me terei safado razoavelmente, no palmilhar das suas curvas de nível.

Debaixo de tanta confusão, sinto-me incapaz de escolher o “meu mapa” (qual frustrante “mp”), não dispondo de uma razão válida, que me sirva de referência. Confesso que sou um atleta detentor de um baixo grau de exigência, talvez por falta de conhecimentos técnicos para uma correcta avaliação. Qualquer mapa me cai no goto, assim esteja bem desenhado, porque o gozo que me proporcionam ao percorrê-los é inquestionavelmente igual. Eu limito-me a correr atrás dos prismas, rezando para que eles não me fujam. O que vai para além disso, será tema de debate apenas para especialistas.

Contudo, de maneira a não defraudar fundadas expectativas e analisando o assunto por uma perspectiva mais abrangente, atrever-me-ei a afirmar que o nosso jardim à beira-mar plantado, dispõe de características “istóricas” suficientes, para poder considerá-lo como o “meu mapa” de eleição.

Surpresa? Porque não? Na verdade, tendo em conta a quantidade de mapas existentes, poucas peças devem faltar, para o qualificado “puzzle” lusitano ficar completo e se transformar num imenso e globalizado éden cartográfico.
 

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sábado, 20 de abril de 2024 – 12:40:06

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