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Emanuel Machado, atleta que tem sido acompanhado pela AMMA Magazine, assim como o seu treinador Carlos Gaspar alcançaram uma Grande Vitória ao conseguirem que o Emanuel cumprisse um dos seus sonhos.. tirar a carta de condução.
Emanuel Machado devido à sua condição especial, confrontava-se com que os relatórios médicos não o deixassem seguir com esse sonho. Agora Emanuel tem 12 pontos na carta, e quantos "pontos" soma Carlos Gaspar?
Vamos ver o ponto de vista de ambos. Sabe-se que Emanuel ainda tem mais um sonho para concretizar, mas esse já não depende do treino de Boxe.
AMMA: Um desafio está superado, tem na carteira a sua carta de condução. O sonho seguinte é adquirir uma viatura, contudo é um automóvel especial. Qual é e o porquê desse carro?
Emanuel Machado: O meu carro de Sonho é o Honda Civic Typer R 2020, porque ele é muito lindo e especial. Único tal como eu acho e que se parece muito e tem haver comigo, eu sou atleta ele é um carro desportivo, só é pena não ter caixa automática, mas esse vai ser outro sonho outro desafio que vem ai para o realizar. Se a Honda Portugal me quiser ajudar que diga alguma coisa…
AMMA: Voltando atrás a temas mais sérios. Porque veio pedir ajuda ao treinador Carlos Gaspar para o tornar apto a tirar a carta de condução? Não se sentia capaz de o fazer sozinho? Acreditou no seu treinador logo desde o primeiro dia?
EM: Eu pedi ajuda ao Gaspar porque eu precisava de alguém com experiência que me orientasse, pois eu sozinho não saberia o caminho certo. Sim eu sempre acreditei que o Gaspar era o único que me conseguiria guiar pelo bom caminho e que conseguiria realizar o meu sonho tanto com o Gaspar como o Boxerpa.
AMMA: Sabemos que era um dos alunos mais assíduos aos treinos. Qual o motivo? Dedicação ao objetivo da carta, ou também uma questão de respeito à disponibilidade do treinador para o trabalhar a si?
EM: O motivo era a dedicação, mas tinha o objetivo de também respeitar quem me estava a ajudar com este sonho e não foi fácil. Muitas pessoas pensam que foi fácil mas não foi. Foi muito duro e difícil, mas o sonho sempre conseguiu demonstrar um grande poder e o consegui realizar.
AMMA: Nem tudo foi fácil. Depois da aprovação médica, na escola de condução passa à primeira vez no código mas na condução foi à segunda. É normal acontecer a qualquer um, mas sabemos que no seu caso ficou muito desiludido a pontos de pensar que nunca o conseguiria fazer. O que o fez levantar, voltar às aulas de condução e conseguir passar à segunda vez? Que emoção teve naquele momento, quando o examinador o tornou apto a conduzir?
EM: O que me fez voltar a levantar foram as mensagens de apoio que recebi do Gaspar. E de todos que realmente queriam que eu realiza-se o meu sonho. Quando o examinador me disse que estava apto eu fiquei muito feliz. Ele até admitiu que mesmo com pequenos erros eu conduzia muito bem. Só que a primeira examinadora foi muito antipática a ponto de eu não saber até agora se fiquei triste ou contente com o realizar do Sonho. Mas como já dei a novidade e todos ficavam contentes então eu só tenho de estar feliz, contente e aliviado por ter realizado um dos Sonhos.
AMMA: Irei perguntar ao treinador Carlos Gaspar quantos pontos ganha ele, tendo o Emanuel 12 na Carta. E para si, para além dos pontos da carta, quantos mais significam esta superação através do treino de boxe de Carlos Gaspar?
EM: Significa muito pois eu também servi de símbolo da esperança para que essas pessoas com as mesmas condições físicas que eu e que eles também podem ter um sonho e que não devem desistir. Também quis mostrar que o Boxe não é como todos imaginam e que se pode usar de maneira positiva o que se aprende, como por exemplo ter calma em momentos de stress. Eu usei muito a calma que adquiri no Boxe no exame de condução por exemplo, mas isso espero ter servido de exemplo e que inspire alguém a seguir o seu sonho e que sejam felizes.
AMMA: Dos seus colegas, também teve ajuda, motivação, força para superar?
EM: Sim tenho um colega meu que eu considero o meu irmão no Boxe que me ajudou muito. Ele sempre me motivava e sempre me deu força quando treinava com ele. Eu falo do Luís, ele foi também o motivo de querer mostrar mais e mais do que tinha aprendido.
AMMA: Qua acha do programa de Carlos Gaspar “Cuidar de mim”? Considera que ainda vai ajudar muitas pessoas com condições especiais a superar as dificuldades que lhe surgem na vida?
EM: Sim acho porque há poucas pessoas como o Gaspar que ajudam pessoas com condições especiais e espero que continue para que possa ajudar mais pessoas, porque elas merecem ter os seus sonhos realizados, pois os sonhos foram feitos para ser realizados.
AMMA: O que gostaria de dizer a essas pessoas, para além de acreditar em si?
EM: Eu gostaria de agradecer a todos, especialmente aos meus pais, ao Gaspar por me ter treinado, ao Pedro Mestre por ter dado voz a este projeto e ao Luís que também foi uma parte fundamental nos treinos. E espero que continuem a apoiar pois ainda não acabou… ainda falta o sonho de ter um Honda Civic Typer R 2020 em Azul. Esta Vitória é Nossa! E as pessoas com condições especiais não desistam, não deixem que ninguém vos trate assim. Sigam os vossos sonhos e sejam felizes.
Vamos ver o que o Treinador tem a dizer…
AMMA: Ficou surpreendido quando o Emanuel veio ter consigo para ter aulas de Boxe para poder aperfeiçoar a sua condição especial para tirar a carta de condução? Ele não veio pedir para ganhar combates em ringue, mas sim tirar a carta. Achou normal?
Carlos Gaspar: Não, não fiquei nada surpreendido pelo facto do Emanuel ter vindo à sala do Boxerpa. Não veio especificamente para ganhar combates ou tornar-se um atleta expedito e um competidor, ou até mesmo para melhorar a sua condição física. Não fiquei, porque a nossa história, a história do Boxerpa é feita precisamente de diverso tipo de pessoas. É uma casa aberta a todos. A própria modalidade, devido à sua complexidade e aos benefícios que dá, quando é executada durante algum tempo, a própria modalidade permite ganhar outro tipo de valências. E neste caso, quando o Emanuel explicou que realmente a sua situação que era o que era, havia a necessidade de melhorar a sua condição da psicomotricidade, da atenção, porque vinha muito frustrado. Basicamente, disseram ao Emanuel, que ele era incapacitado mental e que dentro dessas incapacidades ele nunca iria conseguir ter os reflexos e de ter a percepção de um eventual perigo iminente. Portanto, quando o Emanuel me falou da situação dele, nós claro que o aceitámos, combinámos imediatamente com ele tentar fazer uma nova análise, rever a análise dele com outros médicos, para tentarmos perceber se havia realmente muitas limitações. Se era verdadeiro isso ou não, o que é certo é que, quando começou a treinar connosco, eu comecei a perceber claramente que o Emanuel pode ter muitos problemas, mas esse não era de certeza um deles.
AMMA: Agora que Emanuel tem 12 pontos na carta de condução, Carlos Gaspar que o modelou através do treino, quantos tem como seu treinador?
CG: Bem, isso é uma pergunta complexa porque um treinador que se preze defende sempre o seu espaço, defende sempre a sua modalidade. Mas depois, quando, quando chega a altura de se elevar a si próprio, estamos muito habituados a ficar um pouco um para trás. É normal, o que interessa aqui realmente é o desafio. E é o resultado do produto final, com quem está com quem está connosco. Mas, claro que sim, que é uma satisfação muito grande para mim. Foi mais um, foi mais uma pessoa com problemas, com dificuldades, com angústias, que apareceu. Foi mais uma pessoa que chegou e que pediu um abraço, foi mais uma pessoa que apresentou ao treinador um desafio, que vai muito além de pedir para fazer flexões ou pedir para bater no saco com esta ou aquela velocidade, não é. Para mim como técnico e como treinador, vem mais uma vez confirmar-se que o caminho que eu estou a fazer, é um caminho positivo e que dá resultados.
AMMA: Com todos estes casos de sucesso acha que o programa "Cuidar de mim" foi bem pensado e estruturado?
CG: Bem, o programa “Cuidar de mim” é um programa baseado na história de vida do mentor do Boxerpa. Tem tudo para resultar bem. Aliás, o programa já não deve satisfações a ninguém. O programa já ajudou pessoas, já foi reconhecido inclusivamente pela UNESCO. É um programa com alma, um programa com muito coração, um programa que tem que que através do desporto dá muito amor, muita confiança às pessoas que chegam até nós, e que há, juntamente com o sistema da psicoterapia, parte desportiva a integração para quem pode a integração. A integração no mercado de trabalho, o reequilíbrio, se tiver ainda a estudar reequilíbrio psicológico-emocional, portanto, é um programa com conteúdo muito forte e é um programa que tem tudo para tem tudo para dar certo. No entanto é um programa com uma exigência muito grande a nível técnico. Quem está a trabalhar no programa e quem pega no programa para fazer evoluir estas pessoas têm que ter a consciência que tem que trabalhar bastante, porque também ele próprio vai evoluir, e sem trabalho não existe evolução. Sem entrega, não existe evolução de matéria nenhuma. Sendo um trabalho de apoio social, que mexe com as pessoas, que faz por elas se transformarem a elas próprias, porque o programa apenas ajuda. para lhes dar um impulso. Deixa toda a equipa técnica abraços também ela própria com desafio com a sua própria identidade dos técnicos. O programa é francamente muito bom.
AMMA: O Emanuel tinha realmente o que se pensava dele, ou conseguiu alterar a visão da análise que lhe fizeram e houve outros pontos a considerar?
CG: O que o Emanuel tem… o Emanuel cognitivamente é um homem inteligente e um homem que se expressa através da escrita porque tem dificuldades através da fala, devido à condição dele desde o nascimento, e o Emanuel tem uma figura física particular. E deu-me ideia que desde o princípio que olharam para o Emanuel e o Emanuel tem uma atitude muito humilde, muito humilde mesmo, e está um pouco escondido. O verdadeiro Emanuel está escondido dentro do corpo físico, que nós recebemos assim que o conhecemos. A primeira coisa que se leva a pensar é que realmente o Emanuel é um indivíduo de carácter especial, com uma série de limitações e que aquilo não correu nada bem e tal desde o princípio, desde o nascimento dele. Portanto não é difícil fazer um juízo imediato: “Há algo de errado no Emanuel”. Agora aqui a questão é que este juízo foi feito por técnicos de saúde. O que é grave, o que é muito grave. No meu entender eu acho que deveriam ter sido mais cuidadosos. Até porque quando nós dizemos a uma pessoa que não tem capacidades, e se essa pessoa as tiver, isto é uma frustração muito grande e é um desequilíbrio muito grande que podemos estar a transformar para pior. O futuro dessa pessoa, o dia a dia dessa pessoa. Daí eu ter esperado um pouco mais para tentar perceber. Eu aceitei. Aliás, nós somos bastante claros e honestos. É e sempre disse que vem, vamos ver, vamos explorar e vamos chegar a uma conclusão também, não é?
AMMA: Nos casos especiais que teve em mãos qual foi o mais desafiante e porquê?
CG: Bem o caso mais especial, eu tenho que ter sempre algum cuidado porque as pessoas não devem ser reveladas, a menos que concordem com isso. Como este caso já está muito bem encaminhado, e não está em Serpa, está noutra zona do país. Mas o caso realmente mais complexo foi o de um jovem do sexo masculino, que tinha já o abandono escolar há 2 anos, um jovem com 16 para 17. Ele tinha já o abandono escolar há 2 anos, não estava referenciado, portanto, na escola largou da mão, esqueceram-se dele. E ai é que vivia com uma mãe que estava altamente amargurada, porque o rapaz nunca estava em casa. Tinha horários muito fora do comum, não trabalhava, não estudava, tinha alguns consumos de substâncias, estava a passos largos a caminho de um processo de delinquência juvenil e mais tarde, provavelmente, de uma criminalidade. Pareceu bastante simples ao princípio e realmente este indivíduo, até aceitou de boa vontade a ajuda, mas era muito mais complexo que isso. E então o que acontece é que assim quando começamos a trabalhar mais ou menos 2, 3 meses com a psicóloga, a psicoterapia, o retorno à escola, conseguimos colocá-lo na escola numa turma. As coisas tornaram-se muito complexas porque, em primeiro lugar, a escola não aceitou, não o reconheceu. Que ele estava na escola através do programa “Cuidar de mim…”. A professora, principalmente a professora, assumiu o total controle da situação, não houve comunicação com o programa, e a catástrofe foi quase imediata. E depois é claro, assim que eu impus os primeiros impulsos, retomaram o controle da situação. Assim que ele percebeu que afinal não estava tão controlado quanto isso, foi aí que o desafio começou. Posso dizer que eu como técnico de desporto e o grande apoio daquela mãe, tomei uma decisão que me tirou horas de sono, noites, muitas noites de sono. Porque há uma altura em que este jovem zanga-se com a mãe, sai de casa e diz que não quer voltar, mas não tem lugar para ir e era Inverno. Era em Novembro, princípios de Novembro. E eu disse para a mãe o deixar ir. E quando desligo o telefone, pensei: “Meu Deus, o que é que eu estou aqui a fazer? E se isto corre mal?” Portanto, a responsabilidade ficou toda em mim. O que é certo é que passado um mês e meio e com a chegada do Natal ele voltou, pediu à mãe para voltar. Mas foi um mês e meio de muita angústia, onde eu andei atrás dele sem ele saber. Onde uma vez tentei ir buscá-lo e ele atirou-me pedras e tudo mais e porque estava muito zangado comigo. Mas eu tive realmente que ter que ir buscar a minha experiência de vida. Tive que ir buscar o percurso de onde eu vim, para justificar a mãe que se ele quer passar fome, se ele quer passar frio, deixá-lo. Só que isso é muito arriscado, não é? Isso pode, perder uma vida… Por causa disso, esse foi francamente aquele que foi mais pesado porque demorou muito tempo. Houve muitas oscilações, foi um ano e meio. Um ano e meio com este processo, ele, entretanto, já estava há dias de atingir a maioridade e nós íamos perdê-lo completamente. E iria ser um fracasso redondo, um redondo fracasso. E que a certa altura, todo o trabalho que nós tínhamos feito para trás, toda aquela terapia, toda aquela atenção que lhe demos… tudo. Aquele investimento que tivemos realmente ele quando chegou ali ao fim da linha, ele percebeu que a mãe ainda o podia receber e essa foi a salvação. A segunda parte da salvação, foi realmente depois, nós podemos ter impulsionado esta família para fora da zona onde ele estava a viver, e neste momento está belíssimo. É um jovem belíssimo e a mãe é feliz. É muito grato revê-los sempre que há oportunidade.
Mas devo dizer uma coisa, cada caso é um caso. E, nós só sabemos que que um caso é complexo, é difícil e tudo mais no período final do caso e quando nós olhamos assim um pouco de lado para tentar perceber se fizemos tudo o que tínhamos que ser feito. Todos os casos são bastante complexos. Aliás o programa foi o programa “Cuidar de mim” foi estruturado para casos de intervenção direta e nós temos que respeitar cada caso como sendo o último, como sendo mais um caso de muita dificuldade. Só assim conseguimos ter uma energia positiva para que as pessoas se sintam confiantes connosco, que possam acreditar em nós e começar a acreditar nelas.
Nota da Redação
A superação é algo pelo que lutam muitas pessoas pelo mundo fora. Uns atingem e outros não. Há que saber pedir ajuda quando se sente que sozinho não atinge o objectivo.
Este homem, o Emanuel Machado, atinge a maioridade, idade para poder tirar a carta de condução. É um sonho antigo, mas não sabe se o consegue fazer sozinho. Vai a uma consulta de avaliação e é dado como inapto. Vimos que este homem inapto, foi trabalhado por um treinador de Boxe, o Carlos Gaspar e a sua equipa, através do programa “Cuidar de mim” do Boxerpa, dos quais este técnico é mentor.
Emanuel, vai ao código e supera. A parte cognitiva estava bem. Vai ao primeiro exame de condução e não obtém aprovação. Acontece a muitos... ainda me perguntou se valia a pena ter algumas aulas antes do próximo exame. Sem saber avaliar a sua condição financeira respondi que se lhe fosse possível, sempre ia mais bem preparado. A família lá lhe arranjou mais umas aulas práticas e Emanuel vai a exame e passa.
Como o próprio disse no início da entrevista: «Quando o examinador me disse que estava apto eu fiquei muito feliz. Ele até admitiu que mesmo com pequenos erros eu conduzia muito bem». Ou seja o próprio examinador elogia a condução deste homem.
Assim a parte Cognitiva que anteriormente tinha sido testada, agora na estrada é tudo posto à prova: cognição, coordenação psico-motora, reflexos e reacções rápidas às situações, conhecimento da viatura que tem nas mãos.
Tudo trabalhado pelo treinador Carlos Gaspar e pelos amigos na instituição.
Se ele não tivesse pedido ajuda, teria sido provavelmente mais uma pessoa frustrada na vida.
Não é meu hábito deixar palavras minhas no fim de uma peça deste género, mas como acompanhei o Emanuel Machado desde o início desta aventura, decidi fazê-lo.
Todos os “Emanueis” que existem, peçam ajuda quando precisarem. Todos os Carlos Gaspar que temos, bem-haja e continuem a trabalhar as pessoas afim de corrigir algo que necessitem de superar.
Texto: Pedro MF Mestre
Fotos: AMMA Magazine, Arquivos de Carlos Gaspar e Emanuel Machado